Artigos

Artigo: A Família Chamada Escola e o Cuidado Mútuo

* Gianna de Lara

1 INTRODUÇÃO

Quando falamos em educação, o que vem a cabeça de toda sociedade é a escola, a qual se constitui por diversas pessoas, ou seja, professores, supervisores, orientadores, diretores, funcionários, pais e alunos, os quais precisam aprender a lidar com suas diferenças da melhor forma possível, vivenciando determinadas circunstâncias de forma que o ensino realmente possa acontecer e ultrapasse dessa maneira as salas de aula, mesmo em meio as adversidades impostas pela vida. A pessoa não existe isoladamente, pois os sentidos são construídos quando duas ou mais vozes se confrontam: quando a voz de um ouvinte responde à voz de um falante (WERTSCH, 1991 citado por MENEGON 2000).

Dessa forma, se torna cada dia mais importante sabermos o que esses professores sabem e compreendem sobre seus alunos, bem como é preciso compreendermos o momento que cada um desses profissionais está vivenciando, ao passo de perceber que se eu como profissional, não estou sabendo lidar com minhas próprias questões e angústias como poderei ajudar meu educando a perceber o que está vivenciando? Sendo, de fundamental importância que este adulto entre realmente em contato com o aluno, pois só assim terá a visão real do que ocorre dentro e fora dele, em meio a suas memórias as quais, estão carregadas de medos, inseguranças, impulsos, fantasias, desejos, emoções etc., não só como algo indesejável, mas como demonstração de vida a cada novo momento que possa vir a surgir em sua trajetória estudantil.

Sendo que assim, é possível perceber cada uma dessas emoções vividas pelos membros da escola, a partir do momento que se ampliam os olhares, pois cada um desses seres humanos, o qual usa de seu lugar de direito na sociedade a qual está inserida, pode experenciar e compartilhar ao mesmo tempo, momento e hora, as implicações no que diz respeito à saúde mental de todos.

Numa busca para compreendermos o real papel da escola e quem a compõe, é possível que se perceba, o que acaba ajudando a compreendermos essas queixas que os alunos estão trazendo, quando se houve dizer que os professores não os veem e não percebem seus sofrimentos e que estes sofrimentos se remetem na maioria das vezes a situações cotidianas que acabam por prejudicar seus estudos, onde alguns profissionais carregam consigo o pré-julgamento de o aluno ser preguiçoso, irresponsável, entre tantas outras taxativas.

Da mesma forma, os alunos também têm a possibilidade de perceberem o quanto cada membro da escola precisa se doar e ainda assim cuidar da família ou outras atividades que ele desenvolva em sua vida, pois será na troca de posições destes membros da escola, que cada um conseguirá se colocar no lugar do outro e assim, fazer a inversão de papeis que contribuirá para uma relação mais humana, respeitosa e favorável para todos.

Assim, será possível perceber a importância das pesquisas de campo, unindo-a com a abordagem qualitativa, para podermos entender o que está sendo desenvolvido e se está sendo desenvolvido, para então contribuir com a escola e seus membros, na compreensão do que cada ser humano que ali se faz presente, possa perceber ou mesmo analisar, pois esta falta de sensibilização e empatia por parte dos professores ou mesmo dos alunos perante as angústias, inseguranças e medos e vice-versa, pode estimular muitos sentimentos negativos ou positivos, os quais são trazidos à tona a cada novo dia.

2 DESENVOLVIMENTO

Quando falamos de um campo de análise, precisamos entender, segundo Baremblitt (1996, p. 157-158):

[…] é o perímetro escolhido como objeto para aplicar o aparelho conceitual disponível, destinado a entender o Campo de Intervenção: a inteligência acerca de como ele funciona, a articulação de suas determinações, a forma em que são gerados seus efeitos etc. Este aparelho conceitual pode constituir-se de materiais teóricos muito heterogêneos, dependendo de que sejam eficientes para fazer a “leitura” do Campo de Intervenção. O Campo de Análise não está delimitado segundo um perímetro que coincida com a definição empírica ou “oficial” (instituída e organizada) de um seguimento social. Quanto mais amplo o campo de análise, mais possibilidades existem de entendimento do Campo de Intervenção, por mais aparentemente pequeno que este seja. (BAREMBLITT 1996, p. 157-158).

Assim, na observação diária de uma instituição chamada escola, será possível perceber que as questões sobre a falta de compreensão e sensibilização perante o outro é muito forte, por tanto, para se chegar ao tema, faz-se necessário a compreensão sobre o fator das “relações dos alunos e professores”, dentro do campo educacional e seus atravessamentos no campo escolar, sendo estas peças fundamentais para o desenvolvimento das relações interpessoais e consequentemente na implicação da comunicação em uma instituição.

Sendo, visível a falta de sensibilização perante o outro como uma das principais causas para uma relação desigual de poder, onde geralmente ocorre pelo fato de estar abalado fisicamente e mentalmente, fazendo com que o alvo se considere uma pessoa fraca, que não consegue resolver suas angústias, seus problemas e que não possui condições de acabar com a situação dolorosa que vivencia. Desta forma, se estabelece um dos problemas emergentes que as escolas enfrentam, pois é uma relação que acontece de forma física (gestos) e verbal (fala), de maneira recorrente muitas vezes, onde quem sofre se sente excluído e constrangido, além de afetar seu rendimento e sua autoestima, ocasionando também consequências futuras a todos os envolvidos.

É óbvio que autogestão e autoanálise são dois processos simultâneos e articulados. Por quê? Porque autoanálise, para as comunidades, significa a construção de um saber, do conhecimento acerca de seus problemas, de suas condições de vida, suas necessidades, demandas etc., e de seus recursos. Mas até para que a autoanálise seja praticada pelas comunidades, elas têm que construir um dispositivo no seio do qual essa produção seja realizável. Elas têm que organizar-se em grupos de discussão, em assembleias; elas têm que chamar experts aliados para colaborarem; elas têm que se dar condições para produzir esse saber e para desmistificar o saber dominante. Ao mesmo tempo, tudo o que elas descobrirem neste processo de autoconhecimento só terá uma finalidade: a de auto-organizar-se para que possam operar as forças destinadas a transformar suas condições de existência, a resolver seus problemas. Mas não pode haver uma organização sem um saber; não pode haver um saber sem uma organização. São dois processos diferenciados, mas eles são concomitantes, simultâneos, articulados. (BAREMBLITT, 2002, p.5)

Assim, pensando em termos de autoanálise, que segundo Baremblitt (2002), seria o exercício da reflexão que o grupo consegue fazer sobre a sua realidade, sendo fatores necessários para sua vida não se submetendo ao saber do analista e em autogestão, que é ir paralelamente as possibilidades de reflexão e trocar de experiências com o analista a fim de se auto-organizarem.

Em termos dessa autogestão, nas escolas existe as orientadoras pedagógicas que observam e pontuam em vários momentos as queixas trazidas pelos membros escolares, porém as orientadoras pedagógicas em alguns momentos não dão conta de analisar o conjunto do grande grupo escolar, as quais não conseguem se dar conta de muitos movimentos que estão acontecendo dentro das salas de aula principalmente, sem terem dessa forma, uma opinião formada e segura para poderem falar, auxiliar e assim, entenderem o que está acontecendo, pois a escola demanda muito em outras questões ditas com prioridades burocráticas e por isso acabam não discutindo alguns problemas que já foram percebidos, como o caso da falta de sensibilização por porte de alguns profissionais no que diz respeito a seus alunos. Sendo as orientadoras pedagógicas, designadas para reuniões que são para tratarem das mudanças no sistema de ensino, ou seja, verificarem o que precisam adaptar e que dificilmente irá sobrar um tempo para que assim, discutam os problemas já existentes na escola, ainda mais sendo eles pertencentes a saúde mental e emocional dos membros desta escola.

Pois, não há um local para escuta, e são poucos os espaços que todos os profissionais conseguem se reunir para trocar experiências do que estão percebendo em seus alunos, sendo poucas reuniões ou momentos de oportunidade para falarem de assuntos não burocráticos, não dando conta de conversar sobre assuntos que seriam necessários para a qualidade de ensino e bom desenvolvimento na aprendizagem dos alunos. Por isso, a importância de uma proposta de reflexão sobre questões já cristalizadas e em alguns casos enraizadas na comunidade escolar e que por vezes tornam-se invisíveis aos olhos.

2.1 Roda de Conversa Sala dos Professores

Na rede escolar pouco se tem disponível de momentos para trocas de ideias, assim é necessário aproveitar os intervalos de merenda, trocas de disciplinas, para mesmo que através de conversa informal esses professores, orientadores, possam levantar questões que estão presenciando dentro do campo escolar, tendo como finalidade escutar suas percepções, suas dificuldades impostas pelos alunos, bem como discutir e ver o posicionamento de cada uma sobre o assunto em questão. Sendo necessário a disponibilização e realização de escutas dos professores nesses intervalos de troca de turma e o intervalo da merenda.

Momento aparentemente muito curto, mas que, no entanto, pode gerar muitos frutos para a compreensão do momento vivido, o qual vem sendo trazido pelos alunos, de como os professores são insensíveis e egoístas que não percebem seus sofrimentos. Este momento que os educadores possuem para trocarem experiências, levantarem questionamentos, tirarem suas dúvidas, bem como trocarem ideias de que caminho seguirem em meio a tantos casos e situações diferentes em sala de aula, como: o que faço com tal aluno, que quando menos espero esta deitado no meio da sala chamando a atenção de todos e puxando assuntos nada a ver com as explicações; e minha aluna que está cada vez mais estranha, ela só anda de roupas longas e chora do nada; nem fala e o fulano de uns dias para cá só briga com os colegas, da chute, discute e chora muito; posso perceber também que meu aluno está com problema, não quer fazer as atividades e está cada vez mais isolado do resto da turma; ou ainda, não sei mais o que fazer com minha turma, tudo o que tento não dá certo, brigam, não fazem atividades, choram e não consigo desenvolver nada que trago planejado até o final.

2.2 Escutas Individuais de Professores

Em uma escola é preciso se usar ao máximo de disponibilização de espaços para realização de escutas individuais com os profissionais da educação que demonstrarem necessidade e interesse, de expor questões mais particulares, mas as quais também merecem atenção e que podem contribuir para o melhor convívio e andamento das aulas, pelo fato muitas vezes de envolver discursos de alunos, tais como: a aluna me chamou em uma rede social de ‘corna’ e não entendo o porquê, pois sempre tento ajudar, trato todos eles muito bem, converso de igual para igual, dou abertura em todos os momentos possíveis; assim como algumas perguntas pontuais que tem relação com os desenhos feitos por algumas crianças; as reações em sala de aula perante choros e brigas constantes.

Essas e outras falas de corredores, podem proporcionar uma melhor compreensão do que está acontecendo dentro do ambiente escolar, pois em muitas ocasiões esses alunos apenas querem chamar atenção para algo mais sério que está acontecendo em suas vidas e os quais não sabem como falar para outra pessoa, mas que está ali tumultuando seus sentimentos e não deixando com que o aprendizado aconteça de forma integral em suas vidas.

2.3 Escutas Individuais de Alunos

Precisamos dar voz e ouvidos a escuta dos alunos, onde viram com questões pontuais assim como os professores e as quais merecem atenção, pois estas podem contribuir muito para se desenvolver um aprendizado de qualidade, pois pode surgir pontos fortes como relatos de alcoolismo de um dos pais, brigas entre casal, a não aceitação perante a opção sexual de algum membro da família, o que em muitas ocasiões acaba gerando os mais variados sofrimentos e até mesmo crises sérias de ansiedade, choros e tremores; questões muito fortes de angustia, raiva, desejo de morrer. Todos estes pontos podem estar relacionados inclusive devido a perda de alguém muito querido em sua vida, o qual acaba por se sentir culpado por tal situação; revolta com a separação dos pais, bem como a não aceitação de novos companheiros dos pais, pelo simples fato de pensar que será deixado de lado, assim como o não interesse da família por suas dificuldades físicas, cognitivas, entre outras, o que provoca agreções ao próprio corpo como a automutilação, tudo ocasionado aparentemente pelas frustrações com a vida, suas ansiedades, dor no peito, vômitos constantes e muita vontade de chorar, muitas vezes sem entender o real motivo deste choro.

2.4 Escuta de Pais

Pensar nos pais nesta rede escolar como sendo essenciais para a compreensão do aluno e o quanto é importante o acompanhamento, participação e momentos de escuta dos pais dos alunos, os quais trazem suas preocupações em relação aos filhos, com os quais não estão dando conta sozinhos em casa, requerendo assim auxílio da escola e profissionais disponíveis na rede escolar. Pois muitos trazem a dor de ver o sofrimento dos filhos, o que na maioria das vezes está ligado a angústia do filho de não conseguir dar conta de ajudar em casa, a falta de comunicação através da fala, esses e outros pontos deixam os pais preocupados com seus filhos.

Assim como, o fato de haver limitações na maioria das vezes econômicas, infelizmente faz com que os pais não busquem ajuda e suporte para entender o que está se passando com seus filhos, por medo de represálias e descriminações, sendo assim, acaba sentindo seu filho cada vez mais distante, fechado, ansioso, não se alimentando corretamente, tendo crises de choro constantes e muitas vezes não querendo nem ir à escola.

Estes pais trazem a preocupação com os filhos que estão ansiosos, agitados, fechados no seu mundo interior e que por muito pouco não param de estudar, pois várias vezes se automutilam, relatam que não tem condições de levar o filho a um psicólogo ou psiquiatra, mas que precisa de ajuda e compreensão nas crises que seu filho tem no período que está na escola e se preciso for que a escola tenha autonomia para chamar esses pais no ambiente que seu filho se encontra na escola para que possa cuidar e se fazer presente.

Pois, a preocupação, medo, angustia, revolta, e o fechamento do filho em seu mundo e as companhias que o cercam também preocupam, além do uso de bebidas alcoólicas e drogas que estão cada vez mais presentes no mundo desses alunos, e que podem ser geradores de sofrimento e influenciarem as atitudes agressivas dos filhos na escola e em casa; a preocupação com a revolta dos filhos, bem como a ansiedade e brigas, as quais acreditam contribuir em suas atitudes negativas, as mentiras diárias influenciam bastante, pois não sabem como conduzir, o medo dos pais com que façam alguma besteira, ocasiona em vigiar ou monitorar o máximo possível, pois se acredita que assim poderá evitar que faça alguma besteira que prejudique sua vida para sempre.

2.5 Técnicas para Trabalhar as Emoções

Em uma escola, todos os membros precisam sim estar integrados para que o aprendizado aconteça, assim é preciso se pensar em meios e momentos para que isso seja possível, onde se pode pensar em utilizar uma simples caixa a qual contenha várias frases dentro de pequenos envelopes. Então em dois momentos separados um com os professores e outro com os alunos, dependendo da abertura e disponibilidade de tempo que a escola proporcione, seja nas reuniões pedagógicas, como uma sessão cívica a qual a escola tenha como tarefa este momento, cada um em seu tempo irá tirar um dos envelopes, o lerá e refletirá sobre o conteúdo e impacto que aquilo tem em sua vida naquele momento.

Após tanto aluno como o professor irão pontuar ao grande grupo de forma espontânea como se sentiu naquela situação proposta por uma simples frase, a qual, pontuava de forma mesmo que indireta suas angústias, inseguranças, medos e que em algumas ocasiões acaba por se deparar com outra pessoa vivendo as suas emoções e que em muitas ocasiões também ouviu alguém a mandando deixar de frescura que existem pessoas bem piores que você nesta vida.

Dessa forma, quando conseguimos se colocar no lugar do outro percebendo que não somos apenas nós que possuímos angústias, inseguranças e medos, fica mais fácil aprendermos a lidar, pensar e falar em voz alta, mesmo que naquele momento não era fácil, mesmo assim foi possível. Onde, o ato de pegar um dos envelopes e ler o que nele está escrito, já mexe e muito com as emoções de todos, pois transmitir o que sentiu da sua maneira com aquele assunto em questão, já será um grande avanço, pois fazer colocações perante colegas e alguém que está ali conduzindo aquele momento é muito importante e positivo, tanto para os alunos, como para os professores, os quais será mais fácil se colocar um no lugar do outro deixando as diferenças de lado.

2.6 Rodas de Conversa

A roda de conversa com temas pré-estabelecidos com os alunos, também tem grande valor na troca de experiências, pois os alunos terão a oportunidade de se comunicar, trocar ideias e opiniões sobre um mesmo assunto, no mesmo momento e vivência, podendo surgir questões de ansiedade, preocupações, falta de assunto em família e consequentemente brigas diárias, o medo de perder algum familiar e a incerteza sobre o aprender e não aproveitar o ano, pois cada um sente e compreende de uma maneira. Pois, será um momento para tirarem dúvidas sobre um mesmo assunto, de aluno para aluno, sem terem a presença dos professores, os quais na maioria das vezes já possuem uma visão formada para falarem de determinado assunto, assim o esclarecimento e formação de opinião virão por eles próprios, o que irá diferenciar a opinião de cada um será os locais que estão inseridos, pois os mais adultos em muitos casos começam trabalhar desde muito cedo para ajudar nas despesas da casa.

Sendo assim, o momento de diálogo nem sempre é fácil, pois cada um tem a sua percepção sobre aquilo que está sendo trazido naquele momento e que talvez seja difícil para todos, pois de repente remeterá a muitas questões que não estavam bem trabalhadas em suas vidas, e que agora após as conversas poderá ficar mais fácil de compreender e aceitar certas atitudes e acontecimentos do dia a dia.

2.7 Facilitadores e Obstáculos

O fato de uma pessoa de fora, como uma psicóloga convidada pela escola, quem coordenará cada momento, a qual não estará diretamente ligada a escola e a situação que cada uma vivência e experencia, facilita que tanto alunos como professores possam abrir suas emoções e angústias, assim mantendo uma visão neutra o que facilita a busca por escuta e acolhimento no ambiente escolar, proporcionando então a escola ser um ambiente acolhedor, o qual pode sim se adaptar as situações vivenciadas.

Proporcionando com que cada um possa se adaptar, mudar e se reencontrar para ter uma melhor compreensão de si e do mundo que vive, e com isso, permitir se manter no lugar do outro. Pois, para muitos profissionais da área da educação é muito difícil nos dias de hoje colocar o aluno como um Outro, pois são papéis simbólicos, definidos, que provocam e produzem articulações, mesmo com todas as diferenças existentes.

Podendo a escola proporcionar momentos, encontros cheios de diálogo e aquisições de conhecimentos, os quais proporcionam aprendizado para ambos, onde mesmo quem se sentia desamparado e excluído, acaba se dando conta do que o Outro estava passando e vivendo, o que contribuiu para esse colocar-se no lugar do Outro, mudando radicalmente as convicções, medos, afetos, angustias, tendo tanto a incerteza como a certeza presentes e constante a cada novo dia, mas sempre como um eterno aprendizado para a vida, seja ela escolar ou não.

Pois muitos necessitam tocar, abraçar, mostrar ações através dos gestos para conseguir se expressar, não bastando apenas a palavra, pois os pedidos de cuidado variam de um indivíduo para o outro e esses movimentos de todos os membros da escola que farão com que não haja uma inversão de valores que não vem sendo percebidos, pois a dor do Outro, a dor da perda, da não aceitação, do não poder estar junto, pode provocar um movimento importante de humanização e respeito pela dor desse Outro, mesmo que em algum momento acaba por não haver uma real conexão, porém o respeito pelo que o Outro sente se faz presente nos membros da comunidade escolar.

2.8 É Possível Resultados

Concluir que o caminho percorrido pela escola pode trazer resultados positivos e possíveis sim, que a falta de tempo, diálogo, e uma escuta de qualidade fazem a diferença para que os membros da escola se compreendam e possam sentir um a dor do Outro, se colocando neste lugar, não é tão difícil assim, pois perceber o que está acontecendo ao entorno do seu aluno, do seu professor, bem como o aluno compreender que o professor ou membro do corpo escolar muitas vezes também está passando por momentos de turbulência e que nem sempre estará pronto para interpretar as suas angústias é fundamental.

Pois, se corre tanto atrás da máquina tentando vencer o que temos para fazer e dar conta, que acabamos por não visualizarmos aquilo que está na frente dos nossos olhos clamando por ajuda ou mesmo um gesto de carinho, onde deixamos até mesmo nossos sentimentos de lado pelo simples fato de não os reconhecermos, onde a sociedade nos cobra resultados o tempo todo e isso mexe com os nossos sentimentos mais íntimos e profundos, onde o Outro acaba por ser apenas mais um em meio as adversidades impostas pela vida.

É preciso sim pontuar o que encontramos de positivo em uma escola e nas pessoas que a compõem, a questão da organização, higiene, parceria, e disposição para aceitar o novo, proporcionando assim as mudanças tanto dos profissionais, como dos alunos, após os momentos de trocas de vivência, onde poder ouvir e falar o que se percebe, aceitando e se dirigindo uns aos outros de forma mais humana e sensível, cuidado e percebendo como sentem e vivem em suas vidas nos mais variados contextos.

Dessa forma, é possível se perceber o quanto é fundamental o acompanhamento de um profissional habilitado dentro das escolas, o qual traz consigo um olhar de observador, cuidador, mediador e ouvinte, sendo essencial para uma igualdade e reconhecimento de valores e ações, pelo fato de estar qualificado não só em suas escutas, mas sim na organização, interpretação, distribuição e funcionamento do local que está sendo inserido.

2.9 Fundamentação Teórica

A atualidade é notadamente marcada por vertiginosas mudanças em todos os campos sociais, e a escola com seus educadores e alunos compõem um universo que precisa ser compreendido na complexidade que se configura agora. Onde a escola deve oferecer aos alunos apoio e amparo, pois esse é o momento em que os adolescentes afrouxam seus vínculos com a família para interessarem por outros ambientes na vida. (OLIMPIO e MARCOS, 2015)

Segundo Olímpio e Marcos (2015), é verdade que, para tornar a tarefa de educar mais suportável, propostas pedagógicas são elaboradas. Mas, ainda assim, muitos educadores se sentem paralisados, recuam ou fogem diante do questionamento da importância de sua função por parte dos alunos e a presença frequente da violência. É como se não estivessem preparados para as condições que se apresentam na sala de aula e para a diversidade dos seus alunos.

Segundo eles, os professores tratam as crianças com carinho e atenção e tratam os adolescentes com xingamentos e desrespeito. Os jovens alegam que a experiência escolar na infância é prazerosa e lúdica e que a relação entre professores e alunos se estabelece de forma mais harmoniosa que na adolescência, já que os professores tratam as crianças com respeito, carinho e atenção (ao invés de xingar ou maltratar, como fazem com os adolescentes, tal como afirmam), ao passo que as crianças também os respeitam (Checchia, 2010, p. 71).

Onde a todo momento o ser humano está em relação, no entanto, o que pode pensar quando mencionamos o nosso próprio eu, é que de certa forma vamos nos moldando através das experiências que possuímos. Faz-se necessário ressaltar que o ser humano tem sua essência dotada de uma natureza da qual nos permite ter vivências e possuir uma identidade que prontamente a cada dia vamos construindo. Sendo assim, é importante ressaltar que as instituições que passamos a conviver são dotadas de regras e leis, na qual o ser precisa de certa maneira segui-las, então, pode-se pensar que a nossa subjetividade está constantemente se modificando no universo.

Ao mesmo tempo, Guattari alude à existência de uma tradição filosófica que atribuiu ao sujeito uma “natureza humana”. Sob esse ponto de vista, o simples fato de existir enquanto espécie seria suficiente para atribuir ao humano uma essência. Em larga medida, somos atravessados por essa concepção que, por diferentes vias, colabora para que a nossa vida seja organizada de maneira bastante fixa, valendo-se de regras e valores instituídos que, ao ganharem uma configuração dominante, são legitimados como algo que deve assim permanecer. (GUATTARI, 1996, p. 2)

De encontro com as ideias propostas por Guattari (1996), os valores que são atribuídos em nosso eu, passam a constituir nossa subjetividade e assim nos moldando. Desta forma, a intuição tem um papel importante neste processo de construção do nosso eu, pois através da escola, por exemplo, aprendemos a ler e a escrever, porém outro ponto que precisa ser levado em conta é que estas instituições por terem sua essência em normas, acabam por vezes rotulando as subjetividades, pois todos temos que conviver com padrões que são estabelecidos, e que de certa forma se não damos conta de cumpri-los somos literalmente excluídos da sociedade.

Por isso, as Políticas Públicas educacionais no Brasil, tem foco com mais especificidade nas questões escolares, contudo, a escola por ser um local de aprendizado e de construção social do sujeito, essas políticas devem estar atentas para todas as questões que permeiam o desenvolvimento físico e psíquico das crianças e seu desenvolvimento.

A Escola é a área institucional privilegiada deste encontro da educação e da saúde: espaço para a convivência social e para o estabelecimento de relações favoráveis à promoção da saúde pelo viés de uma Educação Integral. Sendo de fundamental importância compreender a Educação Integral como um conceito que compreende a proteção, a atenção e o pleno desenvolvimento da comunidade escolar. Na esfera da saúde, as práticas das equipes de Saúde da Família, incluem prevenção, promoção, recuperação e manutenção da saúde dos indivíduos e coletivos humanos. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2018)

3 CONCLUSÃO

Diante do que se observa nas escolas é possível perceber, que tanto para os alunos como professores, o não cuidado perante o outro é gerador de sofrimento, sendo a comunicação consigo mesmos e com os outros, um movimento, diga-se solitário, e ao mesmo tempo sinalizador do sofrimento psíquico que estão vivenciando, o qual pode ser observado e experienciado de diversas formas no campo escolar. A palavra, o gesto, a vivência e as atitudes como um todo, individuais e coletivas são consideradas como fatores geradores tanto da aceitação de suas questões psíquicas, como ocasionadores do ato de adoecer. Nesse sentido, a percepção da família, do professor e do aluno, tornou-se um movimento importante, na visão de família escolar, pois todos têm condições de ajudar, oferecendo uns para os outros suporte, apoio, acolhimento e escuta, essenciais para enfrentarem o período conturbado que estão vivendo.

Pois as queixas dos alunos e dos professores perante a não visualização e aceitação de que ambos possuem questões emocionais que os perturbam e tumultuam, como as angústias relacionadas a problemas familiares, a não aceitação de si, se torna nítido nas discussões dos profissionais, onde mesmo aqueles que possuem pouca experiência e tempo de vida, se torna visível que algumas questões muito fortes mexem, prejudicam e preocupam os membros escolares.

Para os alunos, os quais na grande maioria estão na fase das mudanças tanto físicas e biológicas, como psicológicas as quais causam muitos questionamentos e angústias, as quais precisam ser aceitas pelos educadores e encaminhadas aos profissionais da saúde, para que esse aluno possa entrar para a vida adulta resolvido e livre para encarar qualquer problema futuro da melhor forma possível. Sendo que, a aprendizagem acaba por trazer mudanças relativamente permanentes no comportamento e que na maioria das vezes é resultado da experiência, pois toda pessoa nasce com habilidade para aprender, mas a aprendizagem em si somente poderá ocorrer com a experiência diária a qual cada um se permite, se disponibiliza dentro do seu tempo, espaço e momento vivido.

Sendo que, quando se tem um facilitador para mediar esses conflitos externos e internos de forma que não se criem atritos, mas sim se identifique e se trace um plano de ação para compreender, toda e qualquer situação que esteja ocorrendo dentro ou fora do ambiente escola, será mais fácil de se achar um caminho e mostrar aos envolvidos que podemos fazer com que as dificuldades se transformem em frutos produtivos e obstáculos vencidos, onde na maioria das situações, é preciso através das mais variadas formas nos darmos conta que sozinhos não é possível, que será preciso pedirmos ou aceitarmos a ajuda e suporte que está de alguma maneira chegando até nós.

4 REFERÊNCIAS

ANTUNES, Celso. Uma cadeira e suas quatro pernas. Editora Ceitec. 2013.

BAREMBLITT, G. F. Compêndio de análise institucional e outras correntes: teoria e prática. 3. ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1996. 235 p.

BAREMBLITT, Gregorio. Compendio de análise institucional e outras correntes: teoria e prática. 4ª ed. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos, 1998.

BAREMBLITT, G. F. Compêndio de análise institucional e outras correntes: teoria e prática. 5ed. Belo Horizonte: Instituto Felix Guattari, 2002.

CHECCHIA, A. K. A. Adolescência e escolarização: uma perspectiva crítica em psicologia escolar. Campinas: Alínea, 2010.

GUATTARI, F. & ROLNIK, S. Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes, 1996.

OLIMPIO, Eliana; MARCOS, Cristina Moreira. A escola e o adolescente hoje: considerações a partir da psicanálise. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, 2015.

SPINK, Mary Jane P.; MENEGON, Vera Mincoff. A Pesquisa como Prática Discursiva. In (org.). SPINK, Mary Jane. Práticas Discursivas e Produção de Sentidos no Cotidiano: Aproximações teóricas e metodológicas. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2000.