* Por Milene Ferrari
INTRODUÇÃO
O presente trabalho busca ver a importância do laço que une a neurociência, a psicologia e a pedagogia, pois ambas as áreas vêm crescendo cada vez mais, com isso foram unidas essas três áreas transformando em uma ciência transdisciplinar, que hoje é chamada de neuropsicopedagogia que tem como objetivo compreender as funções cerebrais no processo de ensino aprendizagem, para assim reabilitar e prevenir eventuais problemas em crianças no âmbito escolar.
Há um longo estudo, que iniciou anos atrás e foi se desenvolvendo com o uso da tecnologia, onde foi possível entender como o cérebro responde aos processos cognitivos e emocionais. Tendo o estudo do desenvolvimento, estrutura, funções e disfunções cerebrais, tendo em vista também processos psicognitivos que são responsáveis pela aprendizagem e os psicopedagógicos que ficam responsáveis pelo ensino.
A neuropsicopedagogia está na área de conhecimento, sendo voltada para o processo de ensino-aprendizagem, estando em busca de crianças que não se desenvolvem no contexto histórico, social, cultural, econômico ou educacional, e entendendo que o funcionamento do cérebro é o intercâmbio dos impulsos nervosos, onde fazem a transmissão e liberação de substâncias de neurotransmissores.
É necessário o aprimoramento dos profissionais de educação, pois eles estão com o comprometimento do entender e questionar o processo do ensino-aprendizagem para bem melhor atender seus alunos, por tanto é fundamental que o professor faça parte da educação continuada, que não apenas repete seu conhecimento como também em busca de novos conhecimentos, pois assim como cada pessoa têm impressões digitais diferentes, o mesmo acontece com o cérebro, tendo sinapses cerebrais diferentes, cada ser é diferente e o professor precisa utilizar disso da forma que o aprendizado seja prazeroso tanto pra quem ensina, como para quem aprende.O professor deve estar sempre em busca de mais e mais, de aprofundar sobre determinado assunto, para poder auxiliar da melhor forma cada aluno individualmente e também em grupo, respeitando o tempo de cada ser, por essas e outras que o papel do neuropsicopedagogo é de extrema importânciano ambiente escolar, refletindo isso no ambiente externo também, pois os pais percebem o avanço diário de seus filhos.
1 DESENVOLVIMENTO
1.1 Neurociência, Psicologia, Pedagogia e seus estudos
No estudo do cérebro e a mente, cada filósofo ou cientista que estudava sobre o assunto, deixa sua contribuição para aprimorar o estudo, que por anos foi estudado, analisado, juntado para se formar o que hoje é a neurociência. Nesses estudos foi notado que a mente e o coração tinham alguma ligação, pois quando acontecia algo que trouxesse emoção, o coração alterava as batidas, a pele já sentia arrepio e isso fazia com que os estudos quisessem compreender como o cérebro e a mente funcionavam.
Antigamente os meios de estudos eram escassos, sendo feito a dissecação de cadáveres, tendo mais detalhes do cérebro humano, compreendendo que mente e cérebro são um só, cada um teve sua contribuição. Um dos cientistas que contribuíram foi Paul Broca, que descobriu que a linguagem estava em uma localização exata no córtex cerebral, vendo assim que o cérebro possuía áreas específicas onde trabalham o cognitivo e o motor.
Na verdade, a grande evolução das descobertas do cérebro surgiu quando Paul Broca (1824-1880) disse que a linguagem tinha uma localização precisa no córtex cerebral humano, especificamente no córtex frontal esquerdo. (RELVAS, 2012, p.38)
Nesses estudos havia dois tipos de estudos, os holistas e os localizionistas, os holistas diziam que o cérebro era uma rede só, composta de informações específicas para cada função. Com a tecnologia e os avanços da modernidade atual, somados com as descobertas dos antigos cientistas e seus estudos, é possível notar a abrangência do conhecimento e reconhecimento.
O homem deve saber que de nenhum outro lugar, mas do encéfalo, vem a alegria, o prazer, o riso e a diversão, o pesar, o ressentimento, o desânimo e a lamentação. É por isto, de uma maneira especial, que adquirimos sabedoria e conhecimento, e enxergamos e ouvimos e sabemos o que é justo e injusto, o que é bom e o que é ruim, o que é doce e amargo… E pelo mesmo órgão, tornamo-nos loucos e delirantes, e medos e terrores nos assombram…. Todas estas coisas suportamos do encéfalo quando não está sadio…. Neste sentido sou da opinião de que encéfalo exerce o maior poder sobre o homem. Hipócrates – Acerca das doenças Sagradas, Século IX a.C. (RELVAS, 2015, p.22)
O cérebro passou por inúmeros estudos, até chegar em cientistas que analisaram que o órgão possuía neurônio, melhor ainda, uma corrente de neurônios que com transmissões elétricas se comunicavam uns com os outros.
Séculos e mais séculos de estudos, com o mundo se modernizando, máquinas sendo construídas, uma dessas é máquina de raio x, onde era possível realizar avanços nos estudos do cérebro em pessoas vivas, todos esses estudos trouxeram muitos benefícios para a humanidade, tendo compreensão e reconhecimento que o estudo fala muito mais além, fala de emoção, memórias e até mesmo a vivência do meio social.
Com o auxílio de tantos estudos na área é facilitador da aprendizagem, possibilitando o professor ter maior conhecimento em relação a cada aluno, aguçando sua aprendizagem para aulas benefícios e prazerosas, tendo entendimento da individualidade cada um, auxiliando no ensino de emoções, memórias a longo prazo e muito mais.
Toda criança pode aprender a ler e a escrever, mas não em qualquer situação. Mas está claro, também que não é em qualquer situação para todas as crianças. As condições para que ocorra aprendizagem vão variar de acordo com seu período de formação, pois todo processo de aprendizagem deve estar articulado em a história de cada indivíduo. (LIMA, 2002, p.15)
A psicologia abrange o estudo dos processos psíquicos que originam os comportamentos e todas as questões que possam existir na vida do ser humano, o estudo visa compreender sobre emoções, sentimos e tudo que há relacionado. No contexto escolar o psicólogo escolar ou educacional exerce papel de extrema importância, resolvendo questões dentro do ambiente de formação ou até mesmo além.
A psicologia, enquanto instrumento aplicado às práticas educacionais, se origina justamente no final do século XIX, com o empenho de educadores e cientistas do comportamento em classificarem crianças com dificuldades escolares e proporem às mesmas métodos especiais de educação, a fim de ajustá-las aos padrões de normalidade definidos pela sociedade. (YAZLLE, 1997, p. 15).
Com o estudo limitado, antigamente o pensamento era relacionado de que as dificuldades eram culpa dos alunos, mas com o passar o tempo e com os estudos avançados, foi possível não culpar os alunos, mas analisar que havia algo muito maior relacionado às dificuldades de aprendizado.
A psicologia escolar está dentro da psicologia aplicada, e visa ao atendimento de crianças e adolescentes no âmbito escolar, através da observação de alunos em atividades cotidianas da escola, brincadeiras, interações com eles e com demais que estão a volta, através de jogos e situações diversas para analisar e depois buscar meios de contribuir para que haja um diagnóstico e então criar estratégias para a superação das dificuldades achadas.
Um campo de atuação do psicólogo (e eventualmente de produção científica) caracterizado pela utilização da Psicologia no contexto escolar, com o objetivo de contribuir para otimizar o processo educativo, entendido este como complexo processo de transmissão cultural e de espaço de desenvolvimento da subjetividade (MARTÍNEZ, 2003b, p.107).
A atividade educativa é um movimento entre professor, alunos e conteúdo de ensino, tanto aprender quanto ensinar. É necessário atrair a atenção dos alunos, mostrarem que as atividades podem ser prazerosas.
A pedagogia é a formação de professores que possuem a vocação de ensinar desde os primeiros anos de vida, o que irá ser usado em todas as fases posteriores. O pedagogo desenvolve um papel imensamente importante, ensinar as letras do alfabeto, os números, as formas, entre tantas outras coisas. Sua missão é através da educação ensinar o criar, desenvolver, espalhar o seu conhecimento e também aprender.
A Pedagogia não é, certamente, a única área científica que tem a educação como objeto de estudo. Também a sociologia, a psicologia, a economia, a lingüística ocupam-se de problemas educativos, para além de seus próprios objetos de investigação, e, nessa medida, os resultados de seus estudos são imprescindíveis para a compreensão do educativo. Entretanto, cada uma dessas ciências aborda o fenômeno educativo sob a perspectiva de seus próprios conceitos e métodos de investigação. É a pedagogia que pode requerer para si a investigação do campo educativo propriamente dito, como também de seus desdobramentos práticos, e com isso constituir-se em conhecimento integrador dos aportes das demais áreas. (LIBÂNEO, 2002, p. 67)
Assim vendo que a Pedagogia tem um vasto campo na educação e também é a ponta para se realizar as demais áreas e ciências que a educação alcança. E o pedagogo, é profissional que atua tanto direta, quanto indiretamente na prática educativa, tendo a docência em Pedagogia como uma das várias funções que pode se realizar.
1.2 Processo de Ensino Aprendizagem e o neuropiscopedagogo
Ao longo dos anos e através de muitos estudos, é possível dizer que o processo de desenvolvimento de aprendizagem de cada indivíduo se dá pelo estudo da neuropsicopedagogia, tendo significativa melhora nas perspectivas educacionais e retificando a ideia que só alguns aprendem, quando na verdade o que deveria existir é um acompanhamento específico, a estimulação, e também atividades idealizadas para cada indivíduo, além do que respeitar o processo de desenvolvimento de cada um.
[…] como um novo campo de conhecimento que através dos conhecimentos neurocientíficos, agregados aos conhecimentos da pedagogia vem contribuir para os processos de ensino-aprendizagem de indivíduos que apresentem dificuldades de aprendizagem (HENNEMANN, 2012, p.11).
É possível de entender como é o desenvolvimento e a aprendizagem de cada indivíduo através dos conhecimentos da neuropsicopedagogia, auxiliando nos aspectos educacionais e mostrando que a ideia de aprendizagem não se aplica a alguns indivíduos, não é real, e que bem na verdade a aprendizagem para alguns necessita de muita estimulação, aplicando atividades diferentes, mas que respeitem o desenvolvimento de cada indivíduo.
O espaço e o tempo que cada um tem é variável, para a mesma atividade, tendo em vista o profissional que aplica métodos de formas diversificadas para assim ser notório o desenvolvimento de cada indivíduo.
O cérebro tem muita importância, pois ele é responsável por levar e trazer informações, e isso auxilia nitidamente no desempenho do corpo num todo e também na aprendizagem, para isso é necessário estímulo para que assim o cérebro entenda que está recebendo informações importantes.
Isso ocorre, por exemplo, quando o cérebro aprende por meio de experiência e da estimulação, em um processo que acrescenta ou elimina as conexões entre as células, causando mudanças na quantidade de substâncias químicas (neurotransmissores), que exercem a função de transmitir mensagens ou quando o funcionamento de uma determinada área cerebral se torna mais ativo (SAMPAIO, 2014, p17)
A memória é uma ferramenta importante na aprendizagem, é onde ocorre o armazenamento de experiências e de estímulos, quando isso acontece, conseguimos utilizar o que aprendemos agora, em situações mais a frente, ou seja, no futuro utilizamos muito que aprendemos e sentimos no passado.
Memória significa aquisição, formação, conservação e evocação de informações. A aquisição é também chamada de aprendizado ou aprendizagem: só se ‘grava’ aquilo que foi aprendido. A evocação é também chamada de recordação, recuperação. Só lembramos aquilo que gravamos, aquilo que foi aprendido. (IZQUIERDO, 2002, p.9)
O cérebro é a maior ferramenta para o processo de ensino-aprendizagem, tudo que falamos se remete ao que a memória capta. Somos únicos, pois nossas memórias são particulares, podemos ter visto ou aprendido a mesma coisa, porém a experiência que temos é singular, fazendo com que cada um tenha uma reação diferente ao desencadear nossas lembranças.
A aprendizagem, portanto, é o processo em virtude do qual se associam coisas ou eventos no mundo, graças à qual adquirimos novos conhecimentos. Denominamos memória o processo pelo qual conservamos esses conhecimentos ao longo do tempo. Os processos de aprendizagem e memória modificam o cérebro e a conduta do ser vivo que os experimenta (MORA, 2004, p. 94).
Tanto a memória, quanto a aprendizagem são pilares fundamentais para a evolução do ser humano como um ser social, pois passa de um simples entendimento de informações, para o reconhecimento de pensamentos, interligados com ações. E isso se dá através da motivação e do incentivo do profissional, para com o indivíduo.
CONCLUSÃO
O intuito desta pesquisa, se dá ao viabilizar a importância do lúdico no que se diz respeito as ações dos que aprendem e dos que ensinam, tendo em vista que existem diferentes meios e estratégias que facilitam o ensino-aprendizagem, melhorando inclusive a abordagem dos assuntos, com isso tendo maior significância na interação dentro da sala de aula.
O estudo a neuropsicopedagogia versa mostrar aos profissionais de educação, a importância que esta área possui no ambiente escolar e consequentemente tendo ela como aliada e fazendo bom uso em seu cotidiano, obtendo resultados positivos com a utilização dos recursos que está área pode ofertar.
A partir do que foi retratado neste artigo, é possível afirmar a neuropsicpedagogia tem função de extrema importância, mostrando que o processo se dá devido a professor-aluno, aluno-professor, escola-família e família-escola, todos juntos buscando meios de diversificar as atividades, para assim não limitar o processo de ensino-aprendizagem da criança.
Sabemos que diversos especialistas deveriam participar a fio da educação escolar e o profissional de neuropsicopedagogia abrange uma ciência transdiciplinar que engloba a neurociência, a psicologia e pedagogia e esse professor dentro do ambiente escolar, poderá adaptar atividades de forma que a criança ultrapasse suas limitações, que analise cada criança em relação a mesma atividade, pois assim como somos seres únicos, também temos isso na prática de atividades, na forma de interagir sobre um mesmo assunto, e aprendizagem se torna algo mais prazeroso quando conseguimos alcançar a potencialidade de cada um e esse profissional com o acesso a essas três áreas, pode analisar as condições fisiológicas, neuro, sociais, cognitivas e motoras.
Portanto, é necessário o envolvimento de todos no processo de ensino aprendizagem, uma corrente de criança, professor, escola, pais ou responsáveis, para que desde a Educação Básica possa ter maior conhecimento, habilidades e competências, solucionando assim questões individuais ou coletivas, e que futuramente isso beneficie a criança, para se tornar um adulto consciente, crítico, criativo e humanitário, mas para que isso ocorra é necessária a valorização do profissional.
REFERÊNCIAS
HENNEMANN, Ana L. Neuropsicopedagogia Clínica: Relatório de estágio. Novo Hamburgo: CENSUPEG, 2012.
IZQUIERDO, Ivan. Questões sobre memória. São Leopoldo: Unisinos, 2004.
LIBÂNEO, J. “Ainda as perguntas: o que é pedagogia, quem é o pedagogo, o que deve ser o curso de Pedagogia” IN: PIMENTA, S. G. (Org.) Pedagogia e pedagogos: caminhos e perspectivas. São Paulo: Cortez, 2002.
LIBÂNEO, J. C; PIMENTA, S. G. “Formação dos profissionais de educação: visão crítica e perspectivas de mudança”. IN: PIMENTA, S. G. (Org.) Pedagogia e pedagogos: caminhos e perspectivas. São Paulo: Cortez, 2002.
LIMA, E. S. Desenvolvimento e aprendizagem na Escola: aspectos culturais, neurológicos e psicológicos. São Paulo: Sobradinho, 2002.
MARTÍNEZ, M. A. (2003b). O compromisso social da Psicologia: desafios para a formação dos psicólogos. Em A. M. M. Bock (Org.), Psicologia e Compromisso social (pp.143- 160). São Paulo: Cortez.
MORA, Francisco. Como funciona o cérebro. Porto Alegre: Artmed, 2004.
RELVAS, M. Neurociência e transtorno de aprendizagem. Rio de Janeiro: Wak editora, 2015.
RELVAS, M. Neurociência na prática pedagógica. Rio de Janeiro: Wak editora, 2012.
SAMPAIO, S. Transtornos e dificuldades de aprendizagem. Rio de Janeiro: Wak editora, 2014.
YAZLLE, E. G. Atuação do psicólogo escolar: alguns dados históricos. In: CUNHA, B. B. B., YAZLLE, E. G., SALOTTI, M. R. R.; SOUZA, M. De (Orgs.). Psicologia na Escola: um pouco de história e algumas histórias. São Paulo: Arte ; Ciência, 1997. p. 11-38.