Após 32 dias internado, soledadense recebe alta do Hospital de Caridade Frei Clemente

Arquivo Pessoal
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Uma experiência de quase morte. É desta maneira que Pablo Sabadin Chaves, de 39 anos, descreve sua luta contra a Covid-19, onde permaneceu internado por 32 dias no Hospital de Caridade Frei Clemente. Desde total, foram 21 dias na UTI, sendo 8 deles intubado, e no último sábado, 20/3, recebeu alta e foi recebido com muito carinho por seus familiares e amigos.

Os sintomas apareceram no dia 12/2, uma sexta-feira, tendo dores no corpo e garganta, onde foi consultar e medicado. Na segunda-feira (15) fez o teste e teve o diagnóstico positivo. “Neste mesmo dia foi atendido no Centro Clínico, quando mudaram a medicação e começaram a tratar o vírus. Desde o dia que começou com sintomas já isolamos ele em casa”, justifica a esposa Juliana Pedro Chaves.

Após o feriado de carnaval, na quinta-feira (18) Pablo não estava se sentindo bem, quase não conseguia andar. “Levei ele novamente ao Centro Clínico, a Dra Cassieli Colombo e a Sílvia Batista prontamente lhe atenderam e já colocaram no oxigênio, pois sua saturação estava baixa. Encaminharam com urgência para o hospital, onde fez uma tomografia e em torno de 40% dos seus pulmões estavam comprometidos”, comenta.

A esposa conta que ele ficou na observação até o outro dia, quando de fato internou na Ala Covid. “No sábado (20) o médico disse que seu estado de saúde era grave, que iam fazer um novo exame para ver como estavam os pulmões. O resultado da tomografia apresentou que já estava com 80% do órgão comprometido”, informa.

Juliana recorda que a partir daquele momento começou a luta por uma vaga na UTI, com ligações para todos os lugares. “Várias pessoas estiveram envolvidas, em especial os médicos Jorge e Getúlio. Não havia um respirador disponível em Soledade, então foi conseguido o equipamento emprestado com a Secretaria de Fontoura Xavier”, relata.

Momento da vídeo chamada, em que Juliana conseguiu conversar com seu esposo Pablo, ainda na UTI
Momento da vídeo chamada, em que Juliana conseguiu conversar com seu esposo Pablo, ainda na UTI

Ela observa que seu irmão estava vindo de Lajeado e passou por Fontoura Xavier, trazendo o respirador. “Ocorre que o equipamento nunca tinha sido usado e não estava funcionando, apresentava um defeito de fábrica. Não tinha como esperar mais, foi autorizado colocar ele em um respirador de ambulância, até chegar um outro equipamento emprestado de Serafina Correa. Foi um sufoco”, disse a esposa.

Era meia-noite e meia quando o médico ligou para Juliana informando que tinha sido intubado e era preciso esperar que Pablo reagisse a medicação. “Desde esse momento começamos as orações, amigos e familiares, cada um da sua forma, mas todos unidos em pensamentos. Ele ficou estável por alguns dias e de repente começou a reagir e oito dias após a intubação ele acordou”, relembra.

No dia 11/3, o casal fazia aniversário de casamento e Juliana pode acompanhar Pablo até a tomografia
No dia 11/3, o casal fazia aniversário de casamento e Juliana pode acompanhar Pablo até a tomografia

A esposa afirma que a cada ida até o hospital o Dr. Juliano dava notícias positivas. “No dia 3/3 fizeram uma chamada de vídeo, onde pudemos ver como ele estava. Foi um alívio, uma vez que ficamos muito mais tranquilos. Esta iniciativa faz um bem incrível, tanto para o paciente como para a família que fica aqui fora loura por notícias”, pontua.

No dia 11/3, o casal fazia aniversário de casamento, foi então que a equipe fez uma surpresa a eles. “Eu consegui ir até o hospital e acompanhar ele até a tomografia, foi o melhor presente que eu poderia receber. Já no dia 13 de março, após 21 dias de UTI, ele foi transferido para o quarto, onde foi se recuperando até receber alta neste sábado (20)”, conta aliviada a esposa.

Da doença até a recuperação

Pablo comenta que na sua percepção, o período que ficou internado teria sido breve. “Isso porque pouco lembro dos primeiros dias, recordo da internação e da entrada na UTI. Depois disso, só lembro de quando acordei no anexo da UTI. Lá me contaram que passei 8 dias intubado, em coma, coisa que eu não acreditava porque não lembrava de nada. Passei outros dias sem lucidez, com acompanhamento constante de técnicas em enfermagem, enfermeiras e médicos”, relata.

Após passar pelo processo de desintoxicação dos medicamentos, ele diz que passou a entender o que havia acontecido. “Quando olhei a agenda de trabalho percebi a quantidade de tempo que eu estava ali dentro”, completa.

Uma ressalva que faz é para o atendimento recebido no Hospital de Caridade Frei Clemente. “Fui atendido de maneira excepcional por todos os funcionários, desde a equipe de limpeza, técnicas em enfermagem, enfermeiras, médicos, a copa. Todos fizeram muito mais do que suas atribuições, me deram carinho, apoio, atenção e cuidaram da minha saúde de forma que salvaram a minha vida”, agradece.

Ele diz que se hoje está vivo é graças a sua esposa Juliana, que foi incansável e de fé inabalável, e aos profissionais do HCFC. “Fizeram comigo um atendimento de altíssimo nível. Aliás, esse mesmo padrão presenciei com os demais pacientes. Ao sair do hospital fiquei sabendo das correntes de orações dos familiares, de várias prefeituras do Estado, de amigos, vizinhos e até de pessoas desconhecidas”, salienta.

A volta para casa

Pablo foi recepcionado com uma carreata para comemorar sua recuperação. “Foi muita emoção, tinha vários cartazes, balões, quadros pintados pela minha filha, cartinhas, bilhetinhos, flores. Foi uma manifestação de amor e carinho gigantesca, onde pude ver, ainda que a distância, amigos e familiares. Isso só veio confirmar a bênção que Deus me deu de ter uma família amorosa e amigos carinhosos com quem posso contar para qualquer coisa”, garante.

Ele diz que após essa experiência de quase morte, o sentimento é que teve uma outra oportunidade de vida. “Ainda há coisas que Deus quer que realize e ajude a realizar. Outra certeza é a de que quando você espalha o bem e o carinho, retorna quando precisa, e foi o que aconteceu comigo nesse momento através das pessoas, orações e manifestações de carinho que recebi” ressalta.

Completa dizendo que todos têm algo para auxiliar na sociedade, família e no desenvolvimento de quem os cerca. “Nesse momento o sentimento é de continuar lutando e auxiliando na construção de uma sociedade melhor e de mais dedicação a família e aos amigos, que são sustentação da nossa existência”, declara.

Por fim, salienta que todos vão passar pela Covid-19. “Alguns com mais complicações, como foi meu caso, outros nem tanto. Temos que ter fé, manter todos os cuidados e cuidar das pessoas mais vulneráveis, os do grupo de risco. Não temos que ter medo, temos de saber que é uma situação diferente, mas que Deus nunca dá uma cruz maior do que se possa carregar. Nós vamos vencer!”, conclui.

Pablo não ficou com nenhuma sequela, porém ainda está em tratamento de recuperação, com fisioterapia respiratória e motora para voltar a caminhar e ficar 100%. Ele faz apenas pequenos deslocamentos e ainda está usando oxigênio, onde, segundo os médicos, essa situação é comum para as pessoas que foram intubadas.