La Niña chega ao fim após três anos e Pacífico está em neutralidade

Depois de três anos, chega ao fim um evento histórico do fenômeno La Niña. O anúncio foi feito na quinta-feira, 09/03, pela Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA) e já era aguardado ante as condições oceânicas e atmosféricas dos últimos dias no Pacífico Equatorial. Um mês atrás, a MetSul antecipou que a La Niña estava nos últimos dias. Por meses, a MetSul vem destacando ainda a possibilidade de volta do El Niño.

Conforme o Centro Nacional de Previsão do Clima da NOAA, os indicadores de La Niña praticamente desapareceram em fevereiro. A La Niña está associada a águas mais frias do que o normal no Oceano Pacífico tropical, mas recentemente as águas aqueceram e na costa do Peru e do Equador as anomalias de temperatura já estão até em patamar de El Niño costeiro, embora não haja um evento de El Niño.

De acordo com o último boletim da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos, a anomalia de temperatura da superfície do mar era de -0,2ºC na denominada região Niño 3.4, no Pacífico Equatorial Central, que é usada para definir se há El Niño ou La Niña. O valor está na faixa de neutralidade de -0,4ºC a +0,4ºC.

Por outro lado, a região Niño 1+2, perto das costas do Equador e do Peru, que costuma impactar as precipitações mais no verão e a temperatura no Sul do Brasil em qualquer época do ano, estava com anomalia de +1,1ºC, em nível de El Niño costeiro.

Mas um evento de El Niño ainda está no horizonte. O provável retorno do El Niño levanta preocupações sobre como ele pode acelerar o aquecimento global e as crises das mudanças climáticas. O último grande episódio do El Niño em 2015/2016 levou as temperaturas médias globais a recordes e contribuiu para a perda devastadora de florestas tropicais, branqueamento de corais, derretimento do gelo polar e incêndios florestais.

Eventos de El Niño tão intensos normalmente ocorrem uma vez a cada 15 anos, em média, então resta saber – se outro episódio por começar este ano – poderia causar tanto impacto, disse Michael McPhaden, cientista sênior do Laboratório Ambiental Marinho do Pacífico, em Seattle.

A La Niña atuava desde 2020, mas por um breve período houve condições neutras em 2021. Os seus impactos são enormes. Justamente a sucessão de anos de La Niña, que não se via desde a virada do século, causou as estiagens em sequência no Rio Grande do Sul e as secas na Argentina, além de eventos extremos de frio no Sul do Brasil com neve tardia e até inédita em novembro.

FIM DA LA NIÑA É O FIM DA ESTIAGEM?

Com a notícia do fim da La Niña, a pergunta é inevitável: o fim da La Niña significa que a estiagem que assola o Rio Grande do Sul vai acabar? Não, não é tão simples assim. Ideal que acabasse, mas a estiagem vai permanecer ainda por algum tempo. O que pode ocorrer são episódios de chuva mais frequentes, e apenas em certos períodos, como se viu em fevereiro e neste começo de março.

A atmosfera não funciona como virar uma chave, logo o término da La Niña não termina a estiagem de imediato. Isso porque a atmosfera ainda responde por um certo tempo ao padrão que predominava, no caso nos últimos três anos, uma vez que este é um evento de La Niña com três anos de duração, que começou ainda em 2020, o que não ocorria há mais de 20 anos.

O QUE VEM DEPOIS DA LA NIÑA?

Só pode haver uma resposta para a fase seguinte ao evento de La Niña: um período sob estado de neutralidade. O Pacífico tem três fases possíveis que são La Niña, neutralidade e El Niño. Não se passa direto de Niña para Niño ou vice-versa sem um período de neutralidade, seja ele curto ou longo.

Muitas vezes neutralidade no sinal das águas do Pacífico é confundida com normalidade, até por meteorologistas, mas são situações distintas. Neutralidade não é normalidade. Quando o Pacífico Equatorial está neutro, podem ocorrer extremos comuns aos sinais tanto de El Niño como de La Niña.

E saindo de um evento de três anos de resfriamento, a tendência nos momentos iniciais da fase neutra é de um padrão ainda mais perto de La Niña. Mais tarde, em meados do outono – mais para o fim – e no inverno e primavera pode se instalar um evento de El Niño, conforme múltiplas projeções de modelos de clima e oceânicos de longo prazo. Aí os sinais da La Niña terão sumido faz tempo.

Da MetSul