Operação Quixarás é deflagrada no RS e Ceará no combate a crimes de extorsão, associação criminosa e incêndio criminoso

Divulgação / PC
Divulgação / PC

A Polícia Civil, por meio da 1ª Delegacia de Polícia de Repressão a Roubos/Deic, deflagrou a Operação Quixarás, com o objetivo de reprimir a prática de crimes de extorsão, associação criminosa, incêndio criminoso e outros delitos correlacionados, bem como captura de foragido. Os fatos ocorreram no RS desde o ano de 2020 até os dias atuais.

A operação foi executada no Estado do Rio Grande do Sul e no Estado do Ceará, onde policiais civis gaúchos cumpriram o mandado de prisão do principal alvo. Ao todo foram cumpridos três mandados de prisão preventiva, bem como oito mandados de busca e apreensão em Alvorada, Cachoeirinha, Fortaleza/CE e Quixeramobim/CE. A operação teve o apoio da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e da Polícia Civil do Ceará.

Em Fortaleza/CE, o alvo principal foi preso na manhã do dia 29/06, enquanto deixava um hotel onde estava hospedado. Com ele foi apreendido um veículo automotor, em cujo painel, inclusive, havia uma placa que seria de Oficial de Justiça Federal, bem como um adesivo de advogado.

Na sequência, a ação visou a prisão do alvo cearense, que foi capturado no local de sua moradia, no bairro Jangurussu. Nesses locais, diversos cartões fraudados foram apreendidos, bem como celulares e documentos falsificados. Seu papel, segundo a investigação, era fazer os contatos de extorsão.

Já em Porto Alegre, no final da tarde do dia 29/06, foi capturado outro alvo na Free Way, enquanto conduzia seu veículo automotor. Ele é apontado como sendo o elo entre o núcleo gaúcho e o núcleo cearense. As buscas foram executadas na sequência, sendo que em um dos imóveis relacionados a ele foram apreendidas duas pistolas, calibres 9mm e 380, bem como um boné com o emblema da Polícia Federal, além de outros acessórios para arma de fogo. Já em outro local, foi apreendida a quantia de 51 mil reais, bem como documentos e comprovantes bancários.

O fato principal é o relacionado à extorsão e ao incêndio criminoso, ocorridos entre os dias 27 e 31 de março de 2021. As vítimas de extorsão compõem uma Banca de Advogados que atua no Rio Grande do Sul, em cuja sede o incêndio criminoso foi praticado. Utilizando-se de diversos argumentos como ameaça, inclusive de que faziam parte de facção criminosa com origem de São Paulo, os criminosos conseguiram parcialmente o intento. Os valores, a título de extorsão, foram pagos mediante transferências via movimentações PIX. De lá partiram para outras contas. Em contrapartida, hoje, por ordem judicial, todas as contas bancárias dos investigados estão sendo bloqueadas, a fim de ressarcimento futuro às vítimas pelos danos sofridos.

A investigação criminal também visou apurar a forma como o grupo criminoso conseguiu acessar dados sensíveis relacionados às vítimas, como locais de moradia, vínculos familiares e telefones celulares atuais. A conclusão da investigação, até o presente momento, foi a de que, por meio de serviços acessíveis pela rede mundial de computadores e contratação de serviços em sites especializados, o grupo conseguiu obter dados relevantes para implementar as extorsões.

Ao longo da investigação foram descobertos outros fatos, como várias extorsões. Uma delas ocorreu em 20/01/2021, sendo a vítima oriunda da cidade de Viamão. Em síntese, a diretora de uma escola pública foi extorquida a pagar valores, visto que, a divulgação pretérita de um furto ocorrido na escola teria gerado a morte de um dos autores desse furto e que, portanto, deveria pagar sob pena de risco de morte para si e para seus familiares. Outra extorsão ocorreu em 04/04/2021, com uma vítima de Cidreira e com familiares em Viamão. Neste caso, a vítima, que supostamente atuaria na proteção de menores, foi acusada falsamente de ter vinculação com abusos em relação a essas pessoas e, por isso, também deveria pagar valores, sob pena de facções criminosas lhe causarem mal.

Outro caso de extorsão verificado trata de uma vítima de Viamão, fato ocorrido em setembro de 2019. A vítima é de uma família de donos de um comércio local e que teria sido acusada de dever valores a uma facção criminosa para pagamento de um advogado contratado para defendê-la de um suposto crime ocorrido em 2017. Neste caso, a vítima teve o seu imóvel como alvo de diversos disparos de arma de fogo. Complementando os casos de extorsão, em fevereiro de 2021 uma vítima de Alvorada, um proprietário de loja de bordados fora acusado falsamente de delatar às autoridades policiais os membros pertencentes à facção criminosa, que teriam feito em sua loja uniformes falsos da Polícia Civil. Para não sofrer uma séria de represálias, o proprietário da loja teria que pagar valores.

Com relação ao fato envolvendo como vítima a banca de advogados, há indícios de autoria para as pessoas presas durante a operação. A investigação criminal ainda conseguiu identificar que, um dos responsáveis pelo incêndio criminoso da banca de advogados, segundo os próprios investigados e autores das extorsões, foi morto, na noite seguinte ao ato praticado. O homicídio ocorreu na cidade de Alvorada.

O líder do grupo criminoso é um gaúcho, que já estava foragido da Justiça Federal desde 05/03/2020. Ele possui diversos antecedentes policiais por crimes de estelionato, uso de moeda falsa e usurpação de função pública praticada em 2017 na região metropolitana e no interior de Nova Santa Rita.

O indivíduo já se passou, inclusive, por Oficial de Justiça e por Policial Civil do Estado do Rio Grande do Sul. Tais fatos são objeto de Ação Penal em andamento junto à Justiça Federal no Rio Grande do Sul, por onde havia mandado de prisão preventiva em aberto. Usurpando as atividades de Oficiais de Justiça, o investigado cumpria, em conjunto com outros comparsas, falsos mandados de busca e de apreensão, visando apreensão de cigarros contrabandeados. Eles usavam veículo com brasão do TJ/RS, camisetas com identificação e falsa carteira funcional. Já como suposto policial civil, praticou crimes em 2018 em Cidreira, utilizando-se de simulacros de arma de fogo, roupas falsificadas da Polícia Civil e, assim, extorquiam empresários da cidade.

Há, ainda, registros da atuação criminosa em Montenegro e Soledade, contudo, sem maiores detalhes das ocorrências em ambas as cidades. Na organização criminosa também fazia parte um homem cearense, responsável pelos contatos de extorsão, bem como, outro gaúcho, responsável pelo núcleo sulista do grupo.