Inverno de 2021 será sem La Niña e terá mais frio e menos chuva

Robson Dipp / Arquivo Pessoal
Robson Dipp / Arquivo Pessoal

O inverno que começa nesta segunda-feira, 21 de junho, às 0h32 será mais frio que a média dos últimos anos e menos chuvoso que o habitual. É o que indica a análise de clima da MetSul para os próximos meses no Rio Grande do Sul.

O inverno tem início com o Oceano Pacífico Equatorial sem El Niño ou La Niña. O quadro atual é de neutralidade absoluta com anomalias de temperatura da superfície do mar de 0,0ºC tanto no Pacífico Leste (região Niño 1+2) como no Pacífico Central (Niño 3.4). Para o decorrer da estação, a tendência é de manutenção do quadro de neutralidade.

Mudanças bruscas de temperatura trazem risco de tempo severo

O inverno marca o período mais frio do ano no Rio Grande do Sul. As jornadas mais frias costumam ocorrer sob influência de ciclones extratropicais intensos no Atlântico Sul e que são responsáveis por impulsionar massas de ar muito gelado para o Estado.

Quando o frio está acompanhado de um ciclone potente, é comum os gaúchos terem o vento Minuano, sensação térmica negativa, mínimas muito baixas, geada ampla e em alguns casos neve. Ocorre que mesmo durante o inverno são normais dias com calor em qualquer mês da estação, especialmente durante agosto e setembro, e 2021 não fugirá à regra.

A transição de períodos amenos ou quentes para frios pode se dar bruscamente com alto risco de tempo severo na forma de temporais com vento forte e granizo, especialmente se estiver presente um fenômeno conhecido como corrente de jato de baixos níveis, que traz ar quente e vento Norte com forte intensidade antecedendo a chuva e os temporais.

Essas correntes de vento quente a cerca de 1500 metros de altitude são comuns horas antes da chegada de frente fria intensa associada a um grande ciclone e podem trazer temperatura muito alta mesmo à noite.

Em todos os anos se verifica este tipo de cenário em nos casos mais extremos há formação de tornados, como se viu em diversos invernos do passado. Agosto e setembro, quando se espera maior incidência de ar quente, tendem a ser os meses de maior risco de temporais e episódios de tempo severo.

São os meses, historicamente, que marcam um aumento na frequência de tempestades tanto de granizo como de vendavais.

Episódios pontuais de chuva excessiva poderão ocorrer

Em anos de Pacífico neutro ou mais frio do que a média, como se espera nos próximos meses, há um aumento da probabilidade de granizo em agosto, setembro e durante a primavera. Há ainda maior propensão para episódios de vento muito intenso e destrutivos, seja por tornados ou vendavais.

Não significa que temporais fiquem mais frequentes, como se dá em El Niño, mas que quando ocorrem pode ser mais fortes ou severos devido ao ingresso de massas de ar frio mais fortes tardiamente, quando ar mais quente já é mais comum, o que gera maiores gradientes térmicos e de pressão com agravamento do risco de tempo severo.

O inverno é o período mais chuvoso do ano no Rio Grande do Sul, entretanto neste ano a perspectiva é de uma estação com menos chuva do que habitual na maioria das regiões do Estado. É altamente provável que o trimestre de inverno, junho a agosto, termine com chuva abaixo de média na maior parte do território gaúcho.

gosto pode ser um mês com acumulados de precipitação mais altos em algumas regiões e que podem ficar acima da média mensal.

É importante enfatizar que a, apesar da tendência de ser um inverno menos chuvoso que os padrões históricos, episódios pontuais de chuva excessiva podem ocorrer durante a estação.

Há diversos precedentes históricos aqui no Estado de cheias de rios no inverno, independente das condições no Pacífico. O risco, entretanto, é menor em 2021.

Inverno de 2021 poderá ter mais frio que anos anteriores

Quanto à temperatura, a MetSul Meteorologia projeta um inverno mais frio na comparação com os últimos anos que, acompanhando a tendência geral de aquecimento do planeta, tiveram menor frequência de frio intenso e um maior número de dias de temperatura amena ou quentes.

Apesar disso, a tendência não é de um inverno muito rigoroso que se caracteriza por frio intenso constante ou quase permanente, apesar da probabilidade de períodos muitos frios de mais longa duração.

Os episódios de frio intenso ou extremo tendem a ser pontuais. Ao menos um pode ser bastante significativo, refletindo um padrão observado no Hemisfério Norte no começo deste ano.

A MetSul chama a atenção para o fato de a temperatura neste momento em grande parte da Antártida estar muito abaixo da média com uma quantidade imensa de ar extremamente frio se acumulando e que está represado em torno do Polo Sul por um cinturão de vento intenso associado ao vórtice polar e à fase positiva da Oscilação Antártica (AAO).

Havendo um eventual enfraquecimento deste cinturão de vento com a oscilação passando por períodos negativos, o que somente se é possível prever em mais curto prazo, registra-se o alerta que este ar excepcionalmente gelado da Antártida pode alcançar latitudes menores, tornado factíveis erupções de ar polar de grande a enorme potência alcançando o Cone Sul da América e o Sul do Brasil com frio extremo e neve, assim como outras áreas mais meridionais do Hemisfério Sul como a África do Sul, Austrália e a   Nova Zelândia.

Junho e julho, historicamente, são os meses de temperatura mais baixa enquanto agosto e setembro tendem a ter temperatura mais alta, inclusive com alguns dias de forte a intenso calor que lembram jornadas de verão com marcas perto ou acima de 35ºC.

Tais episódios com alta temperatura costumam preceder eventos de tempo severo no Sul do Brasil, atestando a percepção popular que calor no inverno costuma preceder tempestades e às vezes de grande intensidade.

Em 2021, há uma possibilidade maior de episódios de frio intenso em agosto e setembro com risco agravado de geada tardia no final do inverno e no começo da primavera, o que pode trazer prejuízos para a agricultura.

A alternância de calor e frio é maior nos meses de agosto e setembro, o que tende a levar a bruscas mudanças de temperatura com vento e não raro com tempestades severas. Isso piora não apenas o risco de tempo severo assim como de danos para a fruticultura por oscilações radicais de calor para frio e vice-versa.

Fenômenos de inverno

E a neve e geada? A história do clima gaúcho mostra muitos invernos que não chegaram a ser rigorosos, mas tiveram uma ou duas ondas de frio poderosas, até com grandes nevadas, caso de agosto de 1965.

A neve é fenômeno que somente pode ser previsto em curto prazo, dias ou horas antes, mas em anos passados que tiveram características similares às que se prevê houve maior propensão para eventos de neve no Sul do Brasil principalmente em agosto (maior número de casos na segunda metade do mês) e em setembro, sendo alguns significativos.

Geada poderá ser mais frequente

Já a geada ocorrerá mesmo com incursões de ar frio mais fracas, mas será mais ampla na presença de massas de ar polar de maior intensidade. Julho, pela maior frequência de dias frios esperada, deve ter um maior número de dias com geada que agosto e setembro, mas neste ano a frequência de geada deve ser maior que o habitual na segunda metade do inverno, quando a temperatura historicamente começa a se elevar.

Da MetSul.