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Artigo: O Lúdico e suas Contribuições no Processo de Ensino Aprendizagem

Por Graziela Ramos Borges Brum

  1. INTRODUÇÃO

O presente artigo tem por finalidade abordar a temática do ensino lúdico e sua contribuição na aprendizagem das crianças, nas Escolas de Educação Infantil.

A necessidade desta abordagem surgiu de observações do cotidiano das crianças, das práticas pedagógicas existentes e da atuação de muitos profissionais nas escolas de Educação Infantil. Percebeu-se que a maioria dos docentes quase não explora a ludicidade como forma de desenvolvimento cognitivo, por não conhecer a importância deste recurso.

A aprendizagem através do ensino lúdico possibilita que as crianças sintam prazer ao mesmo tempo em que aprendem, isto é, desenvolvam habilidades e competências motoras e cognitivas de forma lúdica, e esta é uma atividade fundamental na infância. Sabemos que a criança é um sujeito histórico social em formação, que está inserida em uma cultura assim como também vive num determinado tempo histórico, e que se não estimulada a pensar, repensar, criar e agir ainda na infância, pode-se tornar um adulto com pouca iniciativa, autonomia e criatividade na solução de seus problemas cotidianos. É na infância que se brinca, corre, pula, salta, investiga e explora o seu mundo de imaginação e encantamento, tornando o brincar fundamental para o seu desenvolvimento na infância. Porém, muitas não têm na sua família ou na própria escola um espaço organizado e atividades planejadas que lhe estimulem de forma correta o seu desenvolvimento integral.

Também, na escola de Educação Infantil é fator histórico, que as pessoas achem que é apenas um local de cuidado, não de educação formal e aprendizagem das crianças. O que se via eram crianças sendo apenas cuidadas e não incentivadas a construir sua aprendizagem e a desenvolver-se plenamente. Os próprios docentes, muitas vezes, pela praticidade, pela acomodação ou ainda por não compreender o quanto é valioso para o desenvolvimento do seu educando usando do recurso lúdico, prefere utilizar apenas o cuidado e o brinquedo livre como propulsor da aprendizagem.

Neste sentido é que se justifica conhecer o ensino lúdico aliando-o as práticas pedagógicas das instituições de Educação Escolar Infantil, o que irá propiciar à criança a possibilidade de viver sua infância não como aluno apenas, mas sim como sujeitos de sua aprendizagem.

O artigo destaca a importância de se compreender o lugar que o ensino lúdico ocupa na Educação Infantil, bem como no desenvolvimento da aprendizagem na criança e sua relevância no planejamento pedagógico do profissional que trabalha com este período do desenvolvimento infantil. Dessa maneira, serão apresentados os seguintes tópicos: Aspectos importantes na Educação Infantil, o ensino lúdico como propulsor do desenvolvimento cognitivo e planejamento e desafios das práticas pedagógicas.

Neste sentido, este trabalho apresenta a reflexão sobre o tema, com o objetivo de compreender as razões que levam o ensino lúdico a ser articulada a aprendizagem infantil, como propulsor do desenvolvimento biológico, psíquico, social, afetivo e cognitivo da criança.

  1. DESENVOLVIMENTO

2.1 Aspectos importantes na Educação Infantil

Ao abordar qualquer tema relativo à aprendizagem infantil se fazem necessários um breve conhecimento de alguns aspectos ligados à educação e a criança.

Inicialmente, é importante saber que em 1959, a Organização das Nações Unidas (ONU), outorgou a Declaração Universal dos Direitos da Criança, reconhecendo a criança como sujeito de direitos. No Brasil foi à Constituição de 1988 no seu artigo 227 que se regimentou os direitos da criança. Junto a eles temos a educação que é descrita com os demais como direito infantis e dever da família e do Estado, visando promover ações que deem conta do desenvolvimento global infantil.

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1998.).

Percebe-se que em primeira instância a educação é dever da família e após do Estado, neste caso assegurado pelos locais de educação formal, as escolas. No entanto, por ser um conceito amplo, existem dificuldades de compreender o que realmente é a educação de fato.

Anos mais tarde, em 1996, na legislação que rege a educação brasileira a educação foi conceituada, de acordo com a Lei de Diretrizes e Base 9394/96 Art. 1º como: “[…] processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”.

Dois anos após a criação desta lei, foi apresentado e regulamentado outro importante documento, o Referencial Curricular da Educação que amplia este processo formativo e dá sentido a outros conceitos ligados a infância, porém, foram na Resolução nº 05 de 17 de dezembro de 2009 em seu artigo 5º que trouxe as Diretrizes Curriculares de Educação Infantil que se teve uma definição clara da Educação Infantil.

Artigo 5º. Primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social. (DCNEF/09.)

Esta etapa de vida da criança é extremamente importante no seu desenvolvimento global, pois segundo Piaget (1984), as crianças da faixa etária das escolas de Educação Infantil, está entre dois estágios do desenvolvimento, do zero aos dois anos no estágio sensório-motor, onde passam dos reflexos ao descobrimento do seu próprio corpo através das experiências que vão adquirindo por meio da percepção e dos estímulos motores. E no período pré-operacional, dos dois aos sete anos, estágio em que a criança se expressa por meio de imagens e habilidades de imitação, brincadeiras, fala jogo e corporeidade. Neste estágio a criança desenvolve de forma intensa o seu cognitivo, o seu motor, e a sua socialização, transpostas pelo processo de assimilação e acomodação de estímulos do meio em que está inserida.

Dessa forma, essas instituições têm por dever proporcionar as crianças além do cuidar, o educar. Visto que, essas ações tornaram-se mais coesas nas últimas décadas, pois conforme a história da educação brasileira sabe-se que na antiguidade as instituições de educação infantil eram tidas como locais apenas de cuidado, higiene e custódia de crianças enquanto os pais trabalhavam.

De acordo com o com o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil.

O cuidado precisa considerar, principalmente, as necessidades das crianças, que quando observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar pistas importantes sobre a qualidade do que estão recebendo. Os procedimentos de cuidado também precisam seguir os princípios de promoção da saúde. Para se atingir os objetivos dos cuidado com a preservação da vida e com o desenvolvimento das capacidades humanas, é necessário que as atitudes e procedimentos estejam baseados em conhecimentos específicos sobre desenvolvimento biológico, emocional, e intelectual das crianças, levando em conta diferentes realidades socioculturais. (BRASIL, 1998, p. 25).

Sabe-se então que o cuidar é uma ação que além de dar conta das necessidades básicas infantil, deve promover a saúde e a preservação do bem estar. O educador tem que ter conhecimentos sobre o desenvolvimento infantil e a realidade onde vive a criança, para que o cuidado alcance o seu verdadeiro objetivo.

Porém, tanto o cuidar quanto o educar, muitas vezes, são erroneamente interpretado, alguns docentes acham que as crianças das Escolas de Educação Infantil, estão ali para serem apenas cuidadas e que sua aprendizagem se dará nas escolas de Ensino Fundamental, outros acreditam que as crianças devem sair preparadas para o Ensino Fundamental, já lendo e escrevendo, preocupando-se com o início da alfabetização e com os conteúdos propriamente ditos. Não que isso não seja significativo, aprender os símbolos na idade pré-escolar é necessário, entretanto se for adquirido essas decodificações por meios lúdicos, será com certeza uma aprendizagem mais rica e concreta.

O brincar é uma necessidade básica na infância, é uma caracterização nata da personalidade infantil. Através dela se pode observar a criança e todo o seu contexto sócio cultural. Percebem-se os seus gostos, os seus desejos, os seus medos, as suas habilidades e sua percepção de mundo.

Esse simples fator leva a criança a desenvolver a sua criatividade, a sua autonomia e a sua imaginação, pois ao mesmo tempo em que é cuidada, ela também é educada brincando. Dessa forma, ela brinca pelo prazer, estimulando seus movimentos corporais e o seu raciocínio, assimilando conhecimentos que incorpora ao seu cognitivo.

2.2 O ensino lúdico e o desenvolvimento cognitivo

O lúdico é um conceito amplamente discutido e apontado por diversos autores que estudam o desenvolvimento infantil. No entanto, a palavra propriamente dita, não tem uma gramática referida no português. Quando se fala em ludicidade se refere a tudo que evidencia jogo, brinquedo e brincar. Vem sendo usada na atualidade como expressão de brincadeira.

Cardoso traz o conceito epistemológico da palavra lúdico:

A etimologia do vocábulo lúdico surge do latim ludus que significa brincar ou jogar. Convém ressaltar que, na língua portuguesa, o termo lúdico é um adjetivo lusório, embora venha sendo utilizado sem justificativas gramaticais, como substantivo e tradução do francês jeu, do inglês play e do alemão Spiel. Assim, no intuito de tentar abranger os variados termos, existe o termo ludo e, modernamente, o neologismo lúdico ou ludicidade. (2008, p.57)

Dessa forma, os estudiosos começaram a utilizar esse vocabulário aliando-o a educação e afirmam que essa é a forma mais concisa e enriquecedora de aprender na infância. Sendo um direito reconhecido mundialmente e apontado no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA).

Sabendo que as crianças se desenvolvem não apenas pelo seu fator biológico, mas também nas relações de troca o que acaba por formar as suas próprias características, o seu jeito de viver, os seus gostos, os seus brinquedos, explorando os aspectos que lhe interessam, usando a curiosidade, a imaginação e a interação como suporte para a aprendizagem, existe o brincar como estímulo e necessidade nesta fase da vida da criança.

A criança necessita do brincar tanto quanto de suas necessidades básicas de comer e dormir. Vygotsky (1994) afirma que o brincar desenvolve na criança o seu pensamento e a sua linguagem e que a aprendizagem se dá nas interações entre sujeitos / objeto ou sujeito / sujeito. Este brincar impulsiona a criança para uma zona de desenvolvimento, conforme Bomtempo mencionando Vygotsky, em sua citação:

[…] no brincar a criança está sempre acima de sua idade média, acima de seu comportamento diário. Assim, na brincadeira de faz-de-conta as crianças manifestam certas habilidades que não seriam esperadas para a sua idade. Nesse sentido, a aprendizagem cria a zona de desenvolvimento proximal, ou seja, a aprendizagem desperta vários processos internos de desenvolvimento. (2000, p. 132)

Para Wallon, defensor da afetividade e interações entre sujeitos:

O desenvolvimento da inteligência, em grande parte, é função do meio social. Para que ele possa transportar o nível da experiência ou da invenção imediata e concreta, tornam-se necessários os instrumentos de origem social, como a linguagem e os diferentes sistemas de símbolos surgidos desse meio. Constituem seus objetos a aquisição ou o desenvolvimento de noções e do conhecimento existente fora do indivíduo e que representam o patrimônio do grupo. (Wallon apud Galvão, 1995, p.51).

Para ambos os autores o desenvolvimento cognitivo se dá no processo de interação social com o meio, com o objeto e com o outro. Portanto, a criança vai aprender nas relações de troca, no brincar, no jogar e no interagir e isso de uma forma eficaz, simples e gostosa.

O lúdico é essencial ao desenvolvimento físico, biológico, social, emocional e cognitivo, pois, a criança desenvolve sua intelectualidade, sua autonomia, sua concentração, sua atenção e sua criatividade. Para Kishimoto:

[…] no contexto cultural e biológico as atividades são livres, alegres e envolve uma significação. É de grande valora social, oferecendo possibilidades educacionais, pois, favorece o desenvolvimento corporal, estimula a vida psíquica e a inteligência, contribui para a adaptação ao grupo preparando para viver em sociedade, participando e questionando os pressupostos das relações sócias. (1994, p.13)

As atividades lúdicas são instrumentos importantes para a criança, pois cria um estado de emoção e imaginação, principalmente nos primeiros anos de vida onde tudo é novo e a descoberta acontece a todo o momento. Brincando a criança imagina, inventa, cria e desenvolve o seu corpo físico e o seu raciocínio.

Segundo Ferland (2006, p.18): “O brincar é uma atividade subjetiva em que o prazer, a curiosidade, o senso de humor e a espontaneidade se tocam, tal se traduz por uma conduta escolhida livremente, da qual não se espera nenhum rendimento específico”. Ou seja, brinca-se por prazer ao mesmo tempo em que intenciona o aprender.

Pensando sobre brincadeiras se constata o quanto é importante manter viva as brincadeiras antigas e as rodas cantadas, aquelas que são passadas de geração para geração e que pedagogicamente são muito ricas e fazem parte da história da infância de muitas culturas na sociedade. Para Kishimoto (1994, p.69) “[…] Por pertencer à categoria de experiências transmitidas espontaneamente conforme movimentações internas da criança a brincadeira tradicional infantil garante a presença do lúdico, na situação imaginária”. Com elas há uma herança social muito forte, que marcam a história com sua tradição e valores.

Da mesma forma, existem os jogos tradicionais, que na sua praticidade são instrumentos de referências da ludicidade. A respeito dos jogos Huizinga (2001, p.29) afirma que:

O jogo, dado o seu componente lúdico, é mais que um fenômeno fisiológico ou um reflexo psicológico. Transpõe os limites da atividade puramente física ou biológica. O jogo é uma atividade voluntária, basta esta característica de liberdade para afastá-lo definitivamente do curso da evolução natural, as crianças brincam porque gostam de brincar, é este o fato que reside sua liberdade.

Se referindo ao brinquedo, novamente Kishimoto cita que “o brinquedo propicia diversão, prazer e até desprazer, quando escolhido voluntariamente; e função educativa: o brinquedo ensina qualquer coisa que complete o indivíduo em seu saber, seus conhecimentos e sua apreensão do mundo”. (2000, p. 37).

Dessa forma, o lúdico é apontado como um recurso para a construção de aprendizagens espontâneas, naturais e prazerosas. Através de atividades lúdicas, as crianças expressam sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando as formas e possibilidades do uso significativo de gestos motores, posturas corporais e pensamentos simbólicos. Sua relação com o objeto ao mesmo tempo em que desenvolve seu motor trabalha seu cognitivo, tornando assim uma relação mágica de brincar e aprender de forma prazerosa e encantadora.

Segundo Dinello (1984, p. 6) “[…] O elemento essencial da atividade lúdica é sua magia, onde tudo pode se representar para a criança sem nenhum outro limite que o da sua imaginação e a consistência de alguns objetos transformados em brinquedos”.

Isso nos conduz a refletir o quanto é essencial para o desenvolvimento infantil o ambiente em que se encontre uma diversidade de atividades artísticas, musicais, brincadeiras, jogos e brinquedos, tudo muito bem organizado e planejado, daí a necessidade de práticas pedagógicas que deem conta disso.

2.3 Planejamento e desafios das práticas pedagógicas

Os diversos conceitos abordados até aqui afirmam que a criança tem o direito de uma educação de qualidade e que priorize as necessidades da infância de forma com que se desenvolva integralmente. Também, é notório que o ensino lúdico aparece como estratégia enriquecedora da construção da aprendizagem pela criança.

No entanto, é fácil refletir para esses aspectos, mas é difícil colocá-los em prática, pois outros fatores aparecem como obstáculos de concretização desta forma de educação. Se por um lado a ludicidade vem ao encontro do desenvolvimento global da criança, por outro a tecnologia, a mídia e a praticidade dos brinquedos industriais levam os docentes a acomodação das práticas pedagógicas nas escolas de educação infantil. Também, na própria família, pela correria do dia a dia, os pais não dispõe de tempo para brincar com seus filhos.

É comum saber que quando as crianças estão em casa passam a maior parte do seu tempo em frente à televisão, com telefone celular ou jogando no vídeo game, e que em muitas Instituições de Educação Infantil essa mesma criança vai passar horas na frente de televisões com filmes infantis, brincando com brinquedos espalhados e com brincadeiras livres sem nenhuma intenção pedagógica. Lopes (2000, p.37) afirma que:

As crianças passam a maior parte de seu tempo livre diante da televisão e não sobra tempo para criar, inventar e usar a imaginação, elas consomem os atraentes jogos e brinquedos eletrônicos e assim acabam por não ter oportunidade de conhecer alguns de seus potenciais criativos.

Dessa forma, o primeiro passa a ser dado se inicia no planejamento educacional do professor. Mesmo na educação infantil se faz necessário ter aulas planejadas com objetivos claros e eficientes, senão de nada vale todo o conhecimento realizado acerca do desenvolvimento integral da criança. Ao planejar sua aula o docente deve levar em conta tudo que cerca a sua realidade escolar. Planejamento é além de buscar subsídios teóricos e práticos para a suas aulas é também uma auto avaliação. Ostetto (2002, p.177) coloca que:

Planejar é uma atitude de traçar, projetar, programar, elaborar um roteiro para empreender uma viagem de conhecimento, de interação, de experiências múltiplas e significativas para com o grupo de crianças. Planejamento pedagógico é atitude crítica do educador diante de seu trabalho docente.

São nesses momentos de práxis pedagógica que há ação, reflexão e ação novamente, e isso é a docência, seja em qualquer instituição escolar. É pensar na criança como um ser em formação, é trazer tudo elaborado e se necessário reelaborar para suprir as necessidades do desenvolvimento global dela. Segundo Freire (2006, p. 97): “[…] o espaço pedagógico é um texto para ser constantemente lido, interpretado, escrito e reescrito. Requer diálogo, escuta mediação e docente-discentes.”.

A criatividade deve ser estimulada através da brincadeira, dos jogos e dos brinquedos de tudo que se refere ao termo conhecido como educação lúdica. Surgindo então o terceiro passo: propiciar atividades lúdicas que deem condições da criança se desenvolver como sujeito biopsicossocial e afetivo.

O docente deve organizar suas atividades de maneira que estas sejam significativas para as crianças, deve considerar as múltiplas inteligências, o ensino das artes, das músicas, dos esportes, do movimento corporal explorando através da educação lúdica. De acordo com Dias (1996 p. 54-55).

É preciso resgatar o direito da criança a uma educação que respeite seu processo de construção de pensamento, que lhe permita desenvolver-se nas linguagens expressivas do jogo, do desenho e da música. Estes, como instrumentos simbólicos de leitura e escrita do mundo, articulam-se ao sistema de representação da linguagem escrita, suja elaboração mais complexa exige formas de pensamento mais sofisticadas para sua plena utilização.

Isso é função dos docentes e papel das Escolas, haja vista que o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (1998), aponta que essas instituições.

[…] devem promover em suas práticas de educação e cuidados, a integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivos/ linguísticos e sociais da criança, entendendo que ela é um ser total completo e indivisível. Desta forma, ser, sentir, brincar, expressar-se, cuidar-se, agir e responsabilizar é partes do todo de cada indivíduo, menino ou menina, desde bebês vão gradual e articuladamente, aperfeiçoando estes processos nos contatos consigo próprios, com as pessoas, coisas e o ambiente em geral.

Os regimentos dessas Instituições devem considerar essas propostas pedagógicas de maneira que ela seja assegurada e cumprida pelos profissionais que ali integram o grupo. O ambiente deve ser um espaço de aprendizagem, socialização e construção de valores através de estratégias educacionais. Também, o educador deve estabelecer no processo de mediação a orientação correta da construção do conhecimento da criança, de maneira que esta seja verdadeira, prazerosa e satisfatória. Considerando os diferentes níveis das faixas etárias que ali se encontram, de forma que esse processo seja gradual e continuo no desenvolvimento motor e cognitivo.

O docente tem um papel fundamental nesse processo, pois ele tem o dever de proporcionar a inserção dos educandos em um meio social que auxilie o seu desenvolvimento integral, possibilitando a cada criança que esta adquira o seu próprio processo formativo, sendo esta uma formação inacabada e continua.

Ainda, o professor tem que estar sempre se aperfeiçoando, buscando incansavelmente o conhecimento para saber aliar a teoria e a prática escolhendo estratégias e recursos condizentes com as necessidades de aprendizagem de cada aluno. Saber os fundamentos das brincadeiras, dos brinquedos, dos jogos e das atividades artísticas e esportivas que utilizará. É importante que além de planejar todas as atividades se brinque juntamente com a criança, assim ela vai se sentir segura, amada e valorizada.

É na infância que ela vai adquirir a sua motricidade, o seu pensamento abstrato, os seus conceitos e valores. O contato com o outro, com as regras e a descoberta de sua própria identidade e possibilidades vem como suporte para a construção de uma aprendizagem significativa e de um sujeito atuante e crítico. Assim, educar através do ensino lúdico é compreender o que se pretende alcançar, numa constate ação, reflexão, ação.

  1. CONCLUSÃO

O presente artigo abordou uma série de aspectos importantes da educação e do desenvolvimento global da criança, trazendo apontamentos fundamentais sobre o ensino lúdico nas escolas de Educação Infantil e as práticas pedagógicas dos docentes.

É notável que a ludicidade estimule na criança o seu desenvolvimento motor, cognitivo, social e afetivo. No entanto, esse dado, muitas vezes é esquecido pelos docentes dessas instituições, que se preocupam ora com o cuidar, exaltando apenas a saúde e o bem estar, ora com o educar, visando apenas à aprendizagem dos conteúdos sistemáticos, para a inserção no Ensino Fundamental.

Ao compreender o conceito de educação viu-se que ela se dá de forma ampla, contínua e inacabável e para que ela seja verdadeira deve haver muitas reflexões, observações e estímulos à construção de conhecimento e de valores, respeitando os direitos da criança. E o brincar, assim como o cuidar e o educar, também é um direito seu. Neste sentido, o ensino lúdico entra como forma propulsora de aprendizagem concreta, prazerosa e autônoma.

A aprendizagem pela ludicidade traz dois fatores relevantes, primeiro que o brincar faz parte da infância, e aos seus olhos é uma forma atrativa de aprender no ambiente escolar, segundo que o lúdico deve ser um recurso intencional do docente para atingir os objetivos propostos.

A ludicidade proporciona a criança o pensar, o agir, o criar, o recriar e o imaginar. Ao brincar ela desenvolve o raciocínio, resolve situações problemas e interage com o meio onde vive e com o outro. Então, surgem neste ponto o papel das escolas de Educação Infantil e o do professor.

Essas instituições têm por dever proporcionar aos alunos um ambiente favorável à condição de ser criança e os docentes devem ter um olhar voltado para a essência infantil e para o seu desenvolvimento integral.

Nesse sentido, foi destacada a relevância do brincar, dos jogos, das brincadeiras, dos brinquedos, enfim, da educação lúdica como estratégia para o docente, de forma a desafiá-los a utilizar tal prática. As principais conclusões são que o brincar é parte da infância e que a criança estimula muito mais a criatividade e a imaginação ao ter a possibilidade da construção de seu conhecimento pelo Ensino Lúdico e para isso é necessário uma postura observadora, critica, e reflexiva do professor e que sua práxis pedagógica de conta de proporcionar um desenvolvimento pleno e uma aprendizagem concreta, enriquecedora e prazerosa.

Assim, este estudo teve grande significado para a reflexão crítica acerca do assunto, pois é na infância que a criança vive num mundo de cercado de sonhos, fantasias e imaginação e a ludicidade é parte integrante desse processo harmonioso e sadio.

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