Isolamento social evitou mais de 2 mil internações por Covid-19 em Porto Alegre

Foto: Marco Favero / Agencia RBS
Foto: Marco Favero / Agencia RBS

As medidas de distanciamento social tiveram impacto positivo significativo para reduzir a quantidade de internações por covid-19 em Porto Alegre, conforme um estudo realizado com base na evolução no número de casos registrados na Capital antes e depois da imposição das restrições de circulação.

O trabalho do professor do Departamento de Matemática Pura e Aplicada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Álvaro Krüger Ramos estima que, se a velocidade de contaminação tivesse se mantido a mesma desde a chegada da pandemia à Capital, poderiam ter sido registrados 2,4 mil casos graves o suficiente para exigir atendimento hospitalar até quinta-feira passada (2). Como naquele momento a Secretaria Municipal da Saúde registrava 246 pacientes com coronavírus, isso significa que ter ficado em casa pode ter evitado que 2,1 mil pessoas desenvolvessem sintomas mais severos. Ou seja, uma redução calculada em 90%.

Ramos explica que utilizou como critério o número de pacientes em condição mais grave porque, desde o dia 20 de março, quando foi constatada a transmissão comunitária da covid-19 (quando não é mais possível rastrear a origem das contaminações), apenas pacientes internados e profissionais com suspeita da doença passaram a ser testados.

O trabalho chamado Análise de dados do RS — Número de infectados por covid-19 demonstra que, entre os dias 8 e 17 de março, período em que as restrições ainda não haviam sido aplicadas, o crescimento se assemelhava a um padrão exponencial. Dados da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) indicam que, em apenas três dias, entre 14 e 17 de março, a quantidade de registros triplicou e chegou a 45. Nas semanas seguintes, embora as notificações tenham continuado a se avolumar, o ritmo foi diminuindo.

Ramos observa que o número de casos mais do que dobrou ao longo de seis dias (17 a 23 de março), mas depois levou oito dias para dobrar novamente e superar 200 ocorrências em 31 de março. Conforme o estudo, “isso indica que, durante o segundo período, o crescimento foi mais diluído”.

— Fiz uma projeção dos casos graves, que correspondem a cerca de 5% do total de pacientes da covid-19. Não há como ter certeza absoluta, mas é o melhor que podemos fazer com os dados disponíveis para avaliar a evolução da doença e o possível impacto do distanciamento — afirma o professor da UFRGS.

Embora o critério de testagem tenha mudado no meio do caminho, Ramos argumenta que isso não interfere na análise do ritmo de disseminação do vírus. Mesmo que em um determinado momento o foco tenha passado a ser os pacientes internados, se houvesse uma espiral de crescimento, ela também se refletiria entre essa amostra. Se 13% dos 2,4 mil possíveis infectados precisassem de UTI — seguindo a média atual na cidade —, isso representaria 316 pessoas para uma capacidade de 525 leitos operacionais hoje.

O diretor geral de Regulação da SMS, Jorge Osório, acredita que a mobilização realizada na Capital e em todo o Rio Grande do Sul retardou a “curva exponencial” que se vê em outras partes do mundo.

— O número de casos de coronavírus subiu, mas em uma progressão linear, não geométrica — diz Osório.

O diretor da SMS lembra que as notificações de novos exames positivos não são o único indicador monitorado pela prefeitura, que também observa diariamente cenários como a taxa de ocupação de leitos.

— A qualquer momento essa curva pode mudar de padrão, e aí podemos ter de lançar mão de outras estruturas, mais respiradores, abrir salas de recuperação ou de emergência para dar conta. Estamos sempre com um olho no horizonte — afirma Osório.

*As informações são da GaúchaZH