ARTIGO: A Terapia de Constelação Familiar

* Denize Del Osbel Pozzebom

RESUMO –  O presente trabalho de pesquisa bibliográfica teve por finalidade fazer uma reflexão sobre a utilização da constelação familiar na saúde como alternativa para a resolução de problemas familiares, os quais refletem na saúde dos pacientes e na sociedade, bem como sua extrema importância enquanto mediadora familiar. O intuito deste trabalho também foi levantar discussões sobre esta prática integrativa criada por Bert Hellinger o desenvolvedor do método. Com base em artigos e livros sobre os mais variados aspectos da constelação familiar, pôde-se perceber que é possível estabelecer uma relação desta com outras áreas de estudo, pois a constelação tem uma importância muito relevante na saúde, sociedade e educação. Ressalta-se também a necessidade de a terapia estar presente na escola e na sociedade em geral, pois entende-se que quando aplicada de forma adequada, a constelação familiar tem um poder de transformação enorme para com o paciente, podendo proporcionar grandes mudanças na vida de cada indivíduo.

PALAVRAS-CHAVE: Terapia. Constelação familiar. Saúde. Sociedade.

1 INTRODUÇÃO

A terapia de constelação familiar ainda é considerada uma área relativamente nova na sociedade, pois surgiu há poucos anos no Brasil, mas hoje faz parte das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde – PICS e também do poder judiciário.

Trabalhar com essa prática integrativa não é tarefa fácil, pois ela mexe profundamente com o passado e os sentimentos das pessoas. Sendo assim, adentrar e estudar a área da terapia de constelação familiar é um tanto desafiador, além de demandar uma grande dedicação do terapeuta, o constelador, na busca de investigar em qual momento ocorreu o problema e por qual motivo isso aconteceu, para que assim seja identificada a origem e sejam encontradas maneiras de auxiliar o constelado a transpor esse bloqueio ou conflito e alcançar os objetivos pelos quais veio buscar a terapia.

Diante disso, o presente trabalho buscou abordar reflexões sobre o papel da constelação familiar na saúde e na sociedade, ressaltando a importância da mesma no desbloqueio e conflito familiar, porém é necessário que o terapeuta esteja bem preparado para fazer uso dessa prática e atender as demandas daqueles que o procuram, buscando através do uso das mais diversas manifestações, alcançar os mais variados objetivos, além  de observar e tentar entender o que o paciente quer transmitir, pois o constelador trabalha com diversas dimensões, entre elas, cognitiva, afetiva e familiar.

O papel do terapeuta num primeiro momento é acolher, entender aquele que o procura e acima de tudo escutar por qual motivo o paciente veio buscar ajuda e aproximar-se do paciente para uma melhor investigação, pois o vínculo entre o constelador e o paciente é primordial para que haja uma relação de confiança.

O tema pesquisado foi escolhido ao longo da formação da pós-graduação em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde – PICS, visando destacar a importância dessas terapias para a promoção da saúde das pessoas, sempre levando em consideração o paciente em questão, uma vez que a terapia é muito relevante no processo de resolução de conflitos familiares.

Diante disso, o objetivo geral deste trabalho é demonstrar a importância da  constelação familiar na saúde e na sociedade, e a mudança que ela proporciona na vida dos pacientes, pois ela traz grandes oportunidades de desenvolvimento na vida sentimental das pessoas, derrubando conflitos e desbloqueando problemas familiares,  inclusive do passado, uma vez que permite ampliar a visão do problema inicial, além de potencializar a descoberta de seus traumas, fazendo com que os pacientes desenvolvam uma mente livre para criar e mudar sua visão de mundo.

Cabe destacar que na área de terapia não se deve ter a preocupação de perfeição, ela somente vem a favorecer o acesso às diferentes formas de visão de mundo por aquele paciente que precisa de ajuda para seguir em frente, desta forma cabe ao constelador pensar no paciente como um ser que cria e recria, para que possa extrair dele na hora da constelação a informação exata para ajudá-lo na resolução do problema.

Este estudo teve como base uma fundamentação bibliográfica onde buscou-se alcançar os objetivos propostos. Seguindo uma linha de pensamento dos autores pesquisados, procurou-se uma melhor compreensão da importância da constelação familiar na saúde das pessoas que procuram a técnica.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 A TERAPIA DE CONSTELAÇÃO FAMILIAR

 A terapia de constelação familiar foi desenvolvida por Bert Hellinger, o qual nos diz que:

A planta inteira está contida na raiz. Nesta raiz está concentrada a força. Entretanto, a raiz é pequena e somente toma pouco espaço, quando a partir da raiz se desenvolve a árvore inteira, a força está expandida e esgotada. Não é necessário olhar para todos os detalhes e querer entender tudo o que ali está contido olhar para os galhos e, as hastes e todas as folhas isso tira a força. Na raiz, entretanto, está inteira e concentrada. E peço licença para continuar: Quando tomamos a força da nossa raiz, conseguimos voar irmos além… (HELLINGER, 2005, p. 204)

A constelação familiar, através do terapeuta ajuda a explorar e a enxergar tudo o que acontece inconscientemente, em todas as áreas da vida da pessoa que procura a  terapia, ajuda a expandir a consciência do paciente, para solucionar ou amenizar o conflito ou dor que o mesmo está sentindo, fazendo-o entender qual é o papel dele perante aquele problema que o aflige ou perante aquela dor que está sentindo, para assim o constelador, por meio de seus métodos e avaliações poder reproduzir um mapa mostrando os caminhos para desbloquear essa dor.

Carvalho (2012, p. 43), traz uma definição de constelação familiar:

A constelação familiar sistêmica é um método criado por Bert Hellinger. Filósofo e teólogo alemão que a partir da vivência com diversos métodos desenvolveu sua própria terapia sistêmica e familiar. Um método revolucionário das constelações familiares. Considera-se o método da Constelação Familiar Sistêmica, uma abordagem da Psicoterapia Sistêmica Fenomenológica e que pode ser aplicado em várias áreas da vida, incluindo a área empresarial. Uma ciência que se coloca a serviço da Vida!!! Uma ciência que trabalha os relacionamentos. Uma abordagem sistêmica que honra e reverencia a vida assim como ela de fato é. A reverência significa que o outro pertence, assim como eu também pertenço a algo.

A terapia de constelação familiar sistêmica pode contribuir para um alívio de problemas na saúde e que consequentemente reflete na sociedade sendo essa uma medida eficaz, uma ferramenta para acolher aqueles indivíduos que procuram ajuda, sendo este um meio para encontrar soluções, pois não envolve só o paciente, mas sim todo um sistema familiar, a terapia vem ao encontro para fazer com que o indivíduo desperte a capacidade de enxergar e compreender o todo.

Bert Hellinger nos diz que:

Os sistemas familiares têm uma força tão grande, vínculos tão profundos e algo tão comovente para todos os membros – independentemente de como se comportem em relação a eles -, que eu confio totalmente neles. A família dá a vida ao indivíduo. Graças a família ele nasce no seio de um determinado povo, numa determinada região e vinculado a determinados destinos e tem que arcar com eles (HELLINGER, 2017, p. 81).

Seguindo a linha de pensamento do autor, podemos dizer que a terapia sistêmica familiar se apoia na busca da origem das dificuldades que o indivíduo está passando, quais sejam os conflitos, bloqueios, desequilíbrios, ou qual for a área da sua vida a ser trabalhada. Sendo estes, responsáveis pelos sofrimentos desenvolvidos por esta pessoa durante toda a sua vida, podendo ter esse problema surgido lá nos antepassados e que hoje estão refletindo na vida desta pessoa.

2.2 A TERAPIA DE CONSTELAÇÃO FAMILIAR COMO FONTE DE PROMOÇÃO DE SAÚDE E RESOLUÇÃO DE CONFLITOS

Nesse sentido, Silva nos diz:

O conflito em si não é o problema. O problema é a forma de lidar com o conflito. De uma perspectiva negativa, o conflito é entendido como um mal que deve ser banido. Consequentemente, a solução para o conflito é vista como um fim em si mesmo. (SILVA, 2008, p. 20)

Entender que o conflito não é sempre um pressuposto negativo, mas que também o conflito olhando com outros olhos pode ser uma força positiva para o crescimento do indivíduo seja para o progresso do mesmo perante a sociedade ou para a evolução pessoal. Ressaltando nesse contexto a importância da Constelação Familiar Sistêmica pois esta aspira trabalhar o conflito de uma maneira completa.

Nas palavras de Barbosa, a mediação pode ser retratada como:

Mediação é a linguagem do terceiro milênio, e a eficácia de seu emprego resulta em construção de passarelas entre pessoas e grupos, derrubando qualquer muro, que ainda exista, inclusive simbólico, a exemplo do preconceito. Quando a comunicação acontece, há uma transformação do conflito, positivamente, pois suas potencialidades transformam-se em força motriz para a renovação. Trata-se do alcance da liberdade perdida. (BARBOSA, 2015, p. 34).

Entender que a mediação é uma via eficaz para a resolução de conflitos, pois ela funciona como um viés, através dela, o terapeuta que está neutro nesse processo, promove o diálogo entre as partes, o qual é a fonte de resolução de conflitos, pois o mesmo abre vias para resolver a dor ou conflito que o paciente venha a estar sentindo, tendo em vista que dialogando consegue-se chegar ao ponto de partida daquele problema.

Conforme Garriga:

O sistema que mais influencia a pessoa é a família, assim como também a rede de vínculos familiares a qual pertence. A principal hipótese sistêmica para isso afirma que os estados de espírito, as vivências, os problemas, os programas de vida e destino das pessoas se explicam e solucionam ao encararmos a posição que uma pessoa ocupa no sistema. (GARRIGA, 2002, p. 55).

Entender que é na família que nos é passado toda a energia sendo ela positiva ou negativa, desde pequenos somos reflexos daquilo que vivenciamos e aprendemos tanto quanto coisas boas ou ruins, tudo ficará guardado no nosso subconsciente e em determinadas situações o gatilho vai ser acionado, trazendo à tona tudo aquilo que foi vivido, influenciando fortemente nas decisões deste indivíduo, devido aos traumas, conflitos ou situações, quaisquer que sejam, mas que de alguma forma estão refletindo negativamente na vida desta pessoa .

Hausner nos explica que:

As constelações sistêmicas mostram claramente que muitos problemas, principalmente quando têm relação com a saúde, podem estar associados à exclusão de uma ou de várias pessoas, ou a acontecimentos relevantes na história da família. Por trás de uma exclusão consciente ou inconsciente existe, via de regra, uma sobrecarga emocional proveniente de uma experiência traumática ou uma decepção dolorosa. Na sobrecarga emocional, a exclusão é inicialmente um recurso para se preservar a vida. Frequentemente esse mecanismo passa a constituir um padrão condicionado e persiste sob a forma de projeções inconscientes sobre outras pessoas. Muitas dessas experiências dolorosas primárias levam mais tarde a julgamentos negativos, recriminações e cobranças. Todas elas atuam nos relacionamentos, separando ou ligando, e muitas vezes é por intermédio de uma doença que a pessoa envolvida é levada posteriormente a refletir e a mudar. Contrariamente aos efeitos das exclusões que amarram, enredam e limitam a vida, a sintonia, a aceitação e o reconhecimento são vividos como liberadores e salutares. Somente quem se harmoniza com o seu passado fica livre para o futuro. Quem luta contra o que passou permanece amarrado, quer se trate de sua própria vida, como uma perda, uma separação prematura dos pais ou uma decisão errada, quer se trate de algo que transcenda a sua própria pessoa e se relacione à história de sua família. (HAUSNER, 2008, p. 31).

Seguindo a linha de pensamento do autor, podemos entender que só quem compreende e faz as pazes com seu passado consegue ter uma visão de futuro mais feliz e promissora, deixar mágoas e ressentimentos para trás, abrindo novos caminhos, portanto aceitar o passado de sua família é se colocar dentro do processo, tomando em mãos a sua posição perante a família e a situação que te paralisa e consequentemente traz dor, curar-se deste passado é equilibrar-se para uma nova fase da vida.

Corroborando com essa ideia, Junior e Reis nos dizem que:

A família é uma das principais instituições da sociedade. É ela a responsável, em grande parcela, pelo desenvolvimento pessoal e emocional de seus membros, pela construção da personalidade e pela internalização de costumes, valores e crenças. Na vivência familiar, são transmitidos modelos de comportamento e de relacionamento que são levados pelos seus membros para as diversas áreas de suas vidas. Assim, um núcleo familiar harmônico é de extrema importância para o desenvolvimento saudável dos indivíduos que o integra. (JUNIOR, REIS, 2020, p. 2).

Dito isso, podemos perceber que a família é o centro emocional do indivíduo e é ali que se constrói todo o potencial e desenvolvimento pessoal, sendo ele positivo ou negativo é na família que são transmitidos os mais diversos comportamentos e aprendizados, por isso, em famílias que tem como centro a harmonia e o diálogo para a resolução de problemas, criam-se indivíduos com mais autonomia para resolução de problemas no decorrer de sua vida.

Além disso, Hausner também nos diz que:

As constelações sistêmicas com doentes sugerem que olhar para a própria vida muitas vezes não é suficiente para um alívio ou para a cura. A doença deve ser considerada em sua vinculação ao contexto transgeracional da família, e não deve ser considerada apenas como um acontecimento pessoal do paciente. (HAUSNER, 2008, p. 31).

Por fim, diante do exposto, podemos entender que os problemas pessoais de alguém, podem ter diversas origens, mas que a principal delas provém das relações familiares, as quais são fontes de cura e de criação de traumas. Sendo assim, a terapia de constelação familiar é uma ferramenta muito importante para identificar a raiz do problema e demonstrar formas de enfrentá-lo.

3 CONCLUSÃO

Esta pesquisa foi de extrema importância por buscar ideias e aprofundar o estudo sobre o tema ‘a constelação sistêmica familiar’ no processo de resolver e amenizar conflitos familiares, de modo que o terapeuta tenha repertório para poder pensar em estratégias coerentes com a realidade do indivíduo, para que assim ele possa superar suas dificuldades através da terapia.

É necessário saber diferenciar todos os contextos que existem e que podem ser explorados na área da Constelação Familiar de modo criativo e atual, pois ela contribui no desenvolvimento do ser humano, derrubando barreiras que impedem o mesmo de progredir seja qual for a área da sua vida que esteja em conflito.

A Constelação Familiar Sistêmica veio com o propósito de quebrar tabus e proporcionar variadas possibilidades de solucionar e equilibrar conflitos na vida das pessoas que a procuram, por isso deve ser percebida como forma de construção de conhecimento, de compreensão do mundo e exteriorização de sentimentos e emoções. Assim sendo, ela é uma terapia de muita relevância, por permitir que os constelados vivenciem suas experiências, quebrem barreiras, expressem-se, ampliem o seu conhecimento de mundo, desenvolvam o pensamento criativo e estético e acima de tudo percebam que existem muitas possibilidades de resolver problemas e conflitos.

Através do presente estudo foi possível observar que fica notável que uma das grandes dificuldades encontradas na terapia é o desconhecimento da técnica por grande parte das pessoas. Diante disso, cabe a terapia da constelação familiar transpor essas barreiras, para assim levar e demonstrar o quão importante é a terapia e o quanto ela faz a diferença na vida das pessoas que a procuram.

Constatou-se durante o desenvolvimento deste trabalho, a existência de uma grande diversidade de vieses na terapia, que envolvem a resolução de conflitos. Bem como, a necessidade de se reconhecer a fundamental importância da terapia na   sociedade em geral e seus grandes benefícios na vida das pessoas.

Diante de todas as leituras, percebeu-se que ainda há muito para ser feito no campo da terapia constelação familiar sistêmica, tendo em vista que está sendo trilhado um caminho para a constante melhoria dessa terapia que está se mostrando tão importante e eficaz na solução de conflitos familiares, tanto na saúde das pessoas como também na resolução de conflitos no judiciário, apesar de que ainda existe o pensamento de que a terapia não é relevante para o processo de resolução de problemas, por ainda existir muita descrença. Porém, é necessário entender que ela é mais um viés para ajudar as pessoas, mas para isso, é preciso salientar que os terapeutas atuantes na área da terapia vão precisar de uma formação continuada para serem capacitados a aplicar as mais diversas formas da terapia.

Sendo assim, é preciso pensar e propor estratégias atuais, a partir das quais os indivíduos aprendam a elaborar seu processo de conflito de modo coerente com as suas condições e limitações. Tendo em vista que na nossa sociedade atual, as mudanças acontecem rapidamente e por isso é necessário que os terapeutas estejam sempre atualizados a respeito do mundo que os cerca.

Conclui-se que este trabalho teve por finalidade buscar entender como a terapia pode influenciar na vida das pessoas e na sociedade em geral, além de mostrar que o terapeuta ajuda a criar uma nova visão do problema para aquele indivíduo que o procura mostrando a possibilidade que o sujeito pode criar uma nova perspectiva para solucionar o seu problema. A partir disso, foi possível constatar que a terapia e suas concepções, é algo potente e transformador e que a sociedade precisa adequar suas práticas, e fazer cada vez mais o uso da terapia na vida das pessoas.

4 REFERÊNCIAS

BARBOSA, Águida Arruda. Mediação Familiar Interdisciplinar. São Paulo: Atlas, 2015. 194 p.

CARVALHO, Elza Vicente. Constelações familiares sistêmicas. Revista Brasileira de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, v. 1, n. 1, 2012.

GARRIGA, Joan. Autorregulação organísmica e movimentos da alma. In: II Congresso Nacional de Gestalt Terapia, Madrid. 2002.

HAUSNER, Stephan. Constelações familiares e o caminho da cura. São Paulo: Cultrix, 2008.

HELLINGER, Bert. A fonte não precisa perguntar pelo caminho. Patos de Minas: Atman, 2005.

______________. Constelações Familiares: o reconhecimento das ordens do amor. São Paulo: Cultrix, 2017.

JÚNIOR, Walsir Edson Rodrigues; REIS, Luísa Marques. A constelação familiar na (re) estruturação dos vínculos afetivos. civilistica. com, v. 9, n. 3, p. 1-28, 2020.

SILVA, Antônio Hélio. Arbitragem, mediação e conciliação. In: LEITE, Eduardo Oliveira (Coord.) Grandes temas da atualidade: mediação, arbitragem e conciliação. 1 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008.

* Artigo de Denize Del Osbel Pozzebom