Artigo: Libras e sua importância na formação de professores na educação de surdos

Por Raquel Quevedo do Amarante, com Licenciatura em Pedagogia, Pós-graduação em Educação Especial e Inclusiva, Atendimento Educacional Especializado, Psicopedagogia Institucional.

INTRODUÇÃO

 O cenário educacional tem sido pauta de discursões, isso devido a realidade encontrada em grande parte das escolas públicas em relação ao despreparo e a falta de profissionais capacitados ao ensino bilíngue para surdos. Dessa forma, a necessidade que se transformem em prática as políticas de inclusão vigentes para que assim desenvolva verdadeiramente a aprendizagem de cada indivíduo.

Com isso, suscita reflexões em torno do uso da Libras (Língua Brasileira de Sinais) e sua importância na formação pedagógica de professores na educação de surdos, assim como a realidade vivenciada por eles no ensino regular.

Por ser este um tema de grande valia no que concerne à educação inclusiva, trata-se de uma compreensão dos benefícios que a formação pedagógica de professores em Libras pode promover no desenvolvimento do aluno, além de gerar uma analise a respeito das técnicas e metodologias que o profissional de sucesso deve estar buscando como forma de aperfeiçoamento.

É interessante ressaltar a importância da Libras na formação pedagógica, pois a mesma diz respeito ao processo de inclusão do aluno surdo no contexto escolar. Assim, diante de tantos desafios, limitações, conquistas e avanços da comunidade surda, percebe-se a necessidade de envolvimento do professor, ferramenta principal de subsídio aos alunos, onde ambos devem atrelar-se na troca de informações através da comunicação no ambiente escolar.

Diante dos perpasses passado na educação de surdos, foi escolhido como objeto de estudo para a realização desta pesquisa “Libras e sua importância na formação de professores na educação de surdos”, que levanta a seguinte problemática: Quais as consequências perpassadas pelo aluno surdo devido à falta de profissionais capacitados em Libras e, por conseguinte a falta do uso da Libras no seu processo de formação escolar?

Desta forma, para obtenção de uma resposta a essa problemática tem- se como objetivo geral: analisar a importância da formação pedagógica de professores para a devida inclusão do aluno surdo. Para os objetivos específicos: caracterizar a importância do uso da Libras pelo professor ouvinte na formação educacional do aluno surdo; investigar as práticas pedagógicas empregadas no ensino de surdos; identificar as principais causas do fracasso escolar na inclusão de alunos surdos.

Assim sendo, utilizei a pesquisa bibliográfica como norte do trabalho realizado, no sentido de reunir informações precisas sobre o tema, estudos sobre o assunto a partir da visão de alguns autores, com maior ênfase Quadros (1997, 2000 e 2008) e obtenção de dados que foram analisados, servindo de base para a investigação e construção deste artigo.

Fundamentos da educação inclusiva dos surdos

O tema Educação Inclusiva, é um assunto bastante comentado no contexto atual da educação. A necessidade de inclusão é causada por diversas questões, sejam por condições sociais, étnicas, necessidades especiais, enfim, por diversas causas que se percebe a necessidade de inserir o indivíduo numa dada sociedade.

Contudo, o ensino passou por diversas mudanças ao longo da história da humanidade, passaram por diferentes estratégias de ensino, não diferente aconteceu no ensino da pessoa surda, onde no início não se notavam as necessidades específicas do indivíduo, pois era estabelecido uma única forma de ensino baseado na homogeneidade, ou melhor, somente para atender a maioria da turma.

Ainda assim, é interessante destacar que a visão de educação era privilégio de poucos, pois antigamente só tinham acesso ao ensino quem tinham condições financeiras, a exclusão já se fazia presente desde então, só a partir da democratização da escola é que se constitui a concepção de educação como um direito de todos, por meio dos direitos humanos e princípios de cidadania.

Essas mudanças foram impulsionadas a partir da Constituição Federal (BRASIL, 1988) que em seu Art..3º, inciso IV destaca “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quais quer outras formas de discriminação”. Além do artigo 206, inciso I que visa promover “igualdade de condições de acesso e permanência na escola”.

Além disso, podemos observar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, (BRASIL, 1996), o seguinte:

Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação: (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)

I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específica, para atender às suas necessidades;

II – terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados;

III – professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns;

IV – educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora;

V – acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular (BRASIL, 1996).

A partir dessas políticas, surgem escolas e instituições especializadas para atender a demanda de pessoas com deficiências, porém com o passar do tempo, percebe-se a necessidade de incluir todos no mesmo ambiente, no intuito de promover a interação como forma de gerar experiências significativas.

Dessa forma, difundiu-se uma Política Nacional de Educação Especial, visando a Educação Inclusiva que proporcionasse uma educação de qualidade para todos. Mas para isso, é necessário que as escolas estejam preparadas para receber alunos com diferentes especialidades, sendo necessário contar com diversos suportes, em especial com profissionais da educação qualificados para atender as necessidades de cada aluno.

Mesmo diante das conquistas alcançadas ao longo dos anos, ainda se percebe nos dias atuais, uma visão antagônica a respeito das pessoas surdas, como nos confirma a fala a seguir:

Postos à margem das questões sociais, culturais, e educacionais os surdos muitas vezes não são vistos pela sociedade por suas potencialidades, mas pelas limitações impostas por sua condição. São definidos como deficientes e, portanto incapazes, isso acontece por causa de um atraso na aquisição da linguagem que os surdos têm no seu desenvolvimento, já que, na maioria das vezes, o acesso a ela é inexistente (SANTOS; SILVA, 2015, p. 24).

Assim, uma educação de alunos surdos precisa impor a Língua de Sinais como elemento cultural, principal subsídio de comunicação. No entanto, para conquistar o direito de comunicação por meio da Língua de Sinais, muitas foram as opressões, discriminações e oposições. Visto assim, que o histórico da educação dos surdos passou pelas seguintes abordagens de ensino: Oralismo, Comunicação Total e Bilinguismo, onde as mesmas foram discutidas e implementadas nas escolas nos diferentes momentos históricos da educação.

O Oralismo foi implementado no Congresso de Milão em 1880, onde ficou proibido a educação de alunos surdos por meio da Língua de Sinais, os sujeitos surdos foram obrigados a serem alfabetizados por meio do método oralista, porém essa metodologia não prosperou. A Comunicação Total (uso de gestos, oralidade, leitura labial, etc.) surgiu no século XX, porém mais uma vez os surdos não desenvolveram, assim comprovaram que a melhor metodologia é a Língua de Sinais, instituindo-se o Bilinguismo, o uso de duas línguas, a primeira a língua visual, ou seja, a sua língua natural e a segunda a língua oficial do país.

Dessa forma, foi instituída a Lei nº 10.436 (BRASIL, 2002), que dispõe sobre a Libras, no “Art. 1o É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais – Libras e outros recursos de expressão a ela associados”.

Ainda em seu parágrafo único, institui que:

Entende-se como Língua Brasileira de Sinais – Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil (BRASIL, 2002).

Para que de fato a efetivação da inclusão do surdo no contexto escolar aconteça, é necessário levar em conta vários fatores excepcionais que requer muito trabalho e empenho, pois depende de toda equipe envolvida. Assim como nos afirma os autores Amorim, Costa e Walker (2015, p. 2) o processo de inclusão é uma conquista que depende do comprometimento diário dos diversos profissionais que envolve a educação de alunos surdos, além do envolvimento do próprio discente surdo, colegas ouvintes, juntamente com a família.

É interessante ressaltar que a educação inclusiva está baseada na premissa de educação para todos, onde se faz a legislação presente, com os seguintes documentos: Constituição Federal (BRASIL, 1988), o Plano Nacional de Educação (BRASIL, 2014) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (BRASIL, 1996).

A lei federal nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996, artigo 24 do decreto nº 3.298/99 e a lei nº 7.853/89, a pessoa com deficiência tem direito à educação pública e gratuita preferencialmente na rede regular de ensino, e ainda, à educação adaptada às suas necessidades educacionais especiais (BRASIL, 1996. p. 7).

Sendo assim, o processo de integração da criança surda na escola regular é de extrema importância, pois tem como objetivo promover a interação e inclusão do mesmo, assim como desenvolver sua aprendizagem numa classe comum da escola de ensino regular. Porém, na maioria das vezes ocorre de forma diferente, pois o aluno acaba sendo excluído devido à falta de profissionais capacitados na área para acompanha-lo e ensina-lo, resumindo apenas na sua mera presença física.

O Art. 4o da Lei nº 10.436 estabelece que:

o sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais – Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, conforme legislação vigente (BRASIL, 2002).

Estes preceitos servem para confirmar a importância de uma prática pedagógica voltada as necessidades da criança. Não adianta um professor que não possui habilidades com Libras dar aula a um aluno surdo, pois a criança não consegue aprender sozinha, dessa forma não haverá compreensão e comunicação adequada entre os mesmos, percebe-se a necessidade de acompanhamento de um especialista da área, pois a criança sozinha não conseguirá alcançar os objetivos pretendidos, além da falta de entrosamento com seus colegas gerar ainda maiores dificuldades. Conforme afirma Quadros (2000):

A educação de surdos não pode mais continuar refém da falta de conhecimento dos profissionais que estão envolvidos na educação de surdos. Temos muito a fazer no processo de alfabetização e no ensino da língua de sinais para garantir a aquisição da leitura e escrita das crianças surdas (QUADROS, 2000, p. 60).

Atualmente muito se tem falado em educação inclusiva, e na perspectiva atual da educação brasileira, a escola deve não somente está aberta a inclusão, como também deve promover acesso ao ensino e permanência a qualquer indivíduo que dela necessite, sem distinção em qualquer sentido.

Dessa forma, suscita reflexões em torno da inclusão escolar de alunos surdos, das práticas pedagógicas desenvolvidas em sala de aula, além da importância da Libras na formação pedagógica de professores que trabalham com esse público.

Para escola desenvolver seu papel, é necessário ter como base a comunicação com os sujeitos envolvidos no processo de aprendizagem, lembrando que este espaço é composto por diferentes pessoas, não só por crianças ouvintes, mas também por pessoas que possuem alguns déficits, como no caso dos surdos. Para isso, é necessário que a escola garanta uma ampliação linguística, desenvolvendo a linguagem em suas diferentes esferas, pois, segundo Goldfeld (1997, p. 108-109) “as Línguas de Sinais podem ser consideradas a grande saída para evitar os atrasos de linguagem, cognitivo e escolar das crianças surdas”. Sendo assim, a Língua de Sinais utilizada no Brasil, vem a ser o principal instrumento de comunicação, onde através da mesma é possível ensinar, aprender e interagir socialmente, assim como na Língua Portuguesa.

Perante este contexto educacional, é possível perceber que a inclusão passa por desafios, superações e dificuldades para ser consolidada. Dessa forma, para a criança surda a comunicação com a comunidade ouvinte gera certo conflito que precisa ser sanado, pois sua aprendizagem fica comprometida, e acaba perdendo informações no contexto escolar, além de ter a interação restrita com o meio social.

Assim sendo, é importante ressaltar que:

nenhum professor está preparado para trabalhar com a Inclusão Escolar até o momento em que chegue a sua turma um aluno a ser incluído, ou seja, ninguém em nenhuma situação está preparado para resolver algo que nunca vivenciou […]. Mas o verdadeiro professor consciente de seu compromisso e desafio ético de educar a todos que pertencem ao seu alunado […], o bom educador reconhece que sua formação é permanente, contínua e flexível […].O bom educador preocupasse com o seu processo de autoconhecimento, com a descoberta de conhecimento e interesses próprios, com suas motivações pessoais (FIGUEIRA, 2011, p. 35-36).

Com isso, se torna ainda mais notável a importância da capacitação do professor em Libras, pois o mesmo é o responsável para estabelecer as metodologias adequadas ao ensino, assim à necessidade do preparo do docente para atender alunos surdos. Para isso, é importante que conheça, utilize e incite o uso da Libras no contexto da educação, em especial no ensino de alunos surdos.

A importância da capacitação em Libras de professores ouvintes no ensino e na aprendizagem dos sujeitos

A formação do profissional da educação é de grande importância para o desenvolvimento do seu trabalho com o aluno, pois é a orientação produzida em sala de aula juntamente com outros aspectos que irá gerar conhecimento necessário para a aprendizagem do discente. No que se trata da formação do professor na educação de alunos surdos, é possível destacar que as pesquisas nessa área de conhecimento vem se evidenciando nos últimos anos cada vez mais, isso devido à grande necessidade em discutir a disciplina de Libras nos cursos de Licenciatura.

O profissional da educação necessita adentrar a todo contexto da Língua de Sinais, no intuito de compreender a dimensão crítica histórico-cultural da mesma, para que assim atenda as perspectivas de uma educação inclusiva, no sentido de tornar acessível a Libras.

A formação do professor deve ser um processo contínuo que perpassa sua prática com alunos, a partir do trabalho transdisciplinar com uma equipe permanente de apoio. É fundamental considerar e valorizar o saber de todos os profissionais da educação no processo de inclusão. Não se trata apenas de incluir um aluno, mas de repensar os contornos da escola e a que tipo de educação estes profissionais tem se dedicado, trata – se de desenvolver um processo coletivo que busque compreender os motivos pelos quais muitas crianças e adolescentes também não conseguem encontrar um lugar na escola (PAULON; FREITAS; PINHO, 2005, p.24).

Assim, quando se fala em educação de qualidade, imediatamente me vem à mente a necessidade da formação continuada para o professor, pois a cada dia se percebe a necessidade de conhecimento progressivo, inovado, sistematizado, visando vencer os desafios, superando as dificuldades da sala de aula, para tornar a integração do aluno a verdadeira inclusão propostas pelas leis, mas que muitas vezes não funciona. Assim, é preciso destacar que a educação é um direito de todos, e é necessário garantir esse acesso e permanência na escola.

A partir do Plano Nacional da Educação (BRASIL, 2014) o governo planejou metas e objetivos a serem desenvolvidos, no intuito de formar professores designados para atender alunos especiais. Porém anos depois, as habilitações especificas ligadas a Pedagogia acabou por ser eliminada. Assim, novas políticas foram designadas em função da luta perpassadas por comunidades surdas, que buscavam assegurar seus direitos.

A formação do professor é um processo essencial para direcionar com competência todo o processo de ensino, pois através do mesmo é possível adquirir conhecimento pedagógico, organizado, propositado, além de preparação teórica cientifico e técnicas que possibilitará atingir seu objetivo. Os autores a seguir sugerem que:

Para a direção do ensino e da aprendizagem é necessário que o professor domine os métodos de ensino, procedimentos, técnicas e recursos auxiliares; expresse com clareza as ideias, fale de modo acessível para que os alunos entendam; faça com que os alunos pensem por si mesmos e tirem suas conclusões para responder perguntas ou solucionar problemas; conheça as possibilidades intelectuais dos alunos, as suas experiências de vida e o seu nível de conhecimento, instigue o interesse pelo estudo e faça com que o aluno perceba a importância da escola para a participação democrática na vida profissional, política e cultural (ARANTES; PIRES, 2012, p.115).

Sendo assim, percebe-se no professor uma figura essencial no processo de aprendizagem do aluno, é necessário que o mesmo esteja preparado didaticamente para atender a demanda do aluno, por ser ele a ferramenta de subsidio no processo de ensino aprendizagem, por isso nada melhor que trabalhar de acordo sua formação pedagógica, ou mesmo buscar a cada dia aperfeiçoamento conforme a demanda de atuação profissional.

Se tratando do ensino de Libras no processo de educação bilíngue, Quadros e Schmiedt (2006, p. 19) acreditam que “[…] a educação bilíngue depende da presença de professores bilíngues. Assim pensar em ensinar uma segunda língua pressupõe a existência de uma primeira língua. O professor que assumir esta tarefa estará imbuído da necessidade de aprender a Língua Brasileira de Sinais”.

Portanto, para a qualificação profissional do professor é preciso que o docente compreenda a Língua de Sinais como língua viso espacial onde as mãos são as articuladoras primárias, tendo a face e o movimento do corpo funções de desempenho importante, trata-se de um conjunto de peças fundamentais para Língua de Sinais.

Ainda assim, é interessante ressaltar a responsabilidade do professor, que é contribuir através da sua atuação com a Língua de Sinais, língua essa de grande significado no âmbito acadêmico e social do indivíduo, que deve ser trabalhado diariamente com os sujeitos surdos, promovendo o estimulo de sua língua natural e seu uso efetivo na comunicação entre professor e aluno, concebendo o indivíduo como pessoa, capaz de se desenvolver como os demais, situando-o como cidadão, visto que existem leis que regulamentam os direitos voltados a inserção da Libras. A seguir Quadros (2008, p. 2) situa o seguinte:

No caso específico da Língua Brasileira de Sinais, há um reconhecimento legal traduzido por meio da Lei n.º 10.436/2002, comumente referida como a Lei de Libras, regulamentada pelo Decreto n.º 5.626/2005. Essa legislação apresenta não somente a lei, mas um planejamento linguístico para que essa língua seja reconhecida e difundida no país. Nesse planejamento está prevista a inclusão da Língua Brasileira de Sinais em diferentes espaços da sociedade. A área da Educação passa a ter responsabilidade em garantir a educação bilíngue para os surdos brasileiros, ou seja, na Língua Brasileira de Sinais, e o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua para os surdos. Ao mesmo tempo, determina a inclusão da Libras como disciplina nos currículos de todos os cursos de licenciatura e no de fonoaudiologia. Sugere, também, que as escolas públicas passem a oferecer Libras no contexto escolar. Além disso, o Decreto dedica um capítulo à formação dos profissionais que irão trabalhar com a Libras. Propõe ainda a criação dos seguintes cursos: letras em Libras, pedagogia bilíngue, formação de intérpretes de Libras e do curso de Língua Portuguesa como segunda língua para surdos. Além da educação, essa legislação regula os direitos dos surdos brasileiros de terem acesso às informações e de atendimento público em Libras. Portanto, são vários desdobramentos desencadeados a partir da Lei de Libras, enquanto política linguística que vem fortalecer esta comunidade linguística brasileira. Embora ainda tenhamos uma política maior que legitima o português como “a” língua brasileira, submetendo as demais línguas a um status de menos-valia; há uma legislação que favorece o empoderamento da Língua Brasileira de Sinais (QUADROS, 2008, p. 12).

É necessário situar o valor que a capacitação em Libras promove ao professor, pois este tem a capacidade de criar metodologias apropriadas ao ensino de alunos surdos, levando em conta não somente a diferença linguística como a diferença cultural entre ouvintes e surdos no mesmo ambiente educacional.

Por isso, se torna cada vez mais indispensável que os profissionais da educação, busquem aprender, conhecer e utilizar a Libras no contexto da educação, onde se faça presente à comunicação nas mais diferentes esferas, no intuito de promover a verdadeira inclusão de todos os alunos. Assim, a escola entra como um elemento crucial e significativo para o bom desenvolvimento social do indivíduo, e para isso a necessidade de uma boa comunicação entre os envolvidos neste processo de formação.

É interessante salientar que a educação bilíngue possui grande importância na educação dos surdos, pois a mesma tem como intuito desenvolver o ensino escolar em Língua Portuguesa e em Libras, sendo a portuguesa desenvolvida como segunda língua e na modalidade escrita aos alunos surdos. Quadros (2008) esclarece ainda mais essa fala, ao dizer que:

[…]faz-se necessário planejar a viabilização de uma educação bilíngue nas escolas públicas, na atualidade essencialmente monolíngues. Esse exercício vai exigir que sejam desconstruídas essas práticas monolíngues e concebida uma política bilíngue. Para viabilizar essa educação bilíngue nos espaços das escolas públicas, os projetos educacionais precisam estar na alma dos profissionais implicados, afirmando as duas línguas que passam a fazer parte da escola. Precisa haver o respeito e a valorização de ambas as línguas que fazem parte das comunidades implicadas nesse espaço. Há diferentes espaços em que as línguas ocupam diferentes papéis e há, também, o contato entre essas línguas. No caso dos surdos brasileiros, a Língua de Sinais é a sua língua de instrução e o português, a segunda língua. Por outro lado, para os colegas ouvintes que estarão nessa escola, a Libras será a segunda língua, enquanto o português continuará sendo a sua primeira língua (QUADROS, 2008, p.15).

Dessa forma, ambos os envolvidos (surdos e ouvintes) não necessitam mais omitir sua língua, pois o ensino bilíngue prova que todas as línguas possuem seu espaço perante a sociedade, e que podem contribuir para maior enriquecimento cultural, de empoderamento do indivíduo, promovendo uma comunicação ampla onde todos possuem o direito e podem se expressar.

Segundo Quadros (2000, p. 53), ao se referir ao bilinguismo, ela não está “estabelecendo uma dicotomia, mas sim reconhecendo as línguas envolvidas no cotidiano dos surdos, ou seja, a Língua Brasileira de Sinais e o Português no contexto mais comum do Brasil”. Assim, a partir da educação bilíngue, as línguas tornam-se alternativas acionadas por seus usuários, sejam eles falantes ou sinalizantes. As mesmas são utilizadas de acordo o contexto, ou a demanda que for necessária para que haja a comunicação.

Dessa forma, é interessante analisar todos os aspectos que giram em torno do assunto, como a questão da inclusão escolar, os prejuízos causados na aprendizagem do aluno surdo pela ausência da Libras no seu processo educacional, a importância da Libras no contexto da sala de aula na aprendizagem do aluno surdo, assim como a importância da mesma na capacitação do professor

Prejuízos causados na aprendizagem do aluno surdo pela ausência da Libras no seu processo educacional

Diante dos perpasses enfrentados por pessoas surdas, diversos são os prejuízos ocasionados em sua formação, que de certa forma acaba por influenciar nos mais diferentes campos da vida social.

Desses prejuízos destacam-se os causados no ambiente escolar, este mesmo por refletir ainda mais nas demais esferas, por ser a escola um dos campos de maior convivência e influência para a criança, conforme corrobora Costa (2018, p. 4), no “contexto escolar, o ingresso tardio, a baixa assiduidade, o abandono, ou o uso de pouca ou nenhuma metodologia de ensino adequada à sua condição refletem seus próprios prejuízos educacionais.” Por se tratar do indivíduo surdo, isso é o que acontece na maioria das vezes, devido a insegurança familiar em expor a criança surda a um ambiente diferente, e pela falta de apoio ou suporte que atendam as condições da surdez.

Outra problemática muitas vezes existente no contexto escolar é ausência da Libras como meio de comunicação, o que prejudica ainda mais o relacionamento entre profissionais e o aluno, além de que também interfere na interação com os colegas de classe.

As situações citadas acima, são alguns dos motivos que prejudicam na aprendizagem do aluno surdo. Dessa forma, as dificuldades de comunicação impossibilitará a criança em adquirir habilidades de leitura, escrita, interpretação, enfim interferirá no desenvolvimento do campo linguístico, intelectual e profissional do sujeito.

A construção do conhecimento é gerado através das vivências e interações entre as pessoas e com o meio em si, no geral quando há um atraso ou dificuldades para se relacionar, existe então uma grande perda para essa construção. Segundo Moreira (2007):

[…] a somatória destas situações corrobora ao fato de muitos surdos não terem acesso a elevados níveis acadêmicos mesmo comprovadas suas potencialidades de desenvolver competências e habilidades igualmente a pessoas ouvintes (MOREIRA, 2007, p. 1).

É através da linguagem que a criança se situa no mundo, sendo capaz de se desenvolver através do acesso ao conhecimento, além das relações interpessoais subsidiadas através da comunicação. Lembrando que o desenvolvimento da linguagem, no caso das crianças ouvintes, não se inicia na escola, pois o mesmo se dá desde o nascimento, assim, neste primeiro momento é a família que cumpre esse papel, desta forma a importância de ter um ambiente estimulador e rico que possa influenciar desde cedo na formação da linguagem da criança.

A escola será o principal meio de socialização secundária, onde a criança passará por diversas situações de vivências, para adquirir conhecimento, além acrescentar valores, normas e formas de se interagir no mundo. Sendo que todos os envolvidos neste ambiente, funcionários da escola, professores, colegas, estarão contribuindo para que o universo da criança se amplie.

Para que isso ocorra, é necessário que haja uma forma comum de comunicação para ambos os envolvidos. Para a criança ouvinte, não há impedimento, mas no caso de crianças surdas a comunicação com a comunidade maior e dominante gera certo conflito que deve ser sanado, pois na escola ela perde informações, ela não sabe se é hora de escrever, comer ou sair para o recreio, à mesma aprende apenas pela observação da ação de seus colegas, ou seja, sua compreensão fica restrita, o aluno finge que aprende e o professor finge que ensina. Para Quadros (1997, 80-83), as pessoas surdas possuem o direito de serem ensinadas em Língua de Sinais, pois se a língua oral é adquirida de forma sistematizada, pode ser dizer que a Língua de Sinais é uma língua.

Diante desse tipo de situação percebe-se a necessidade de uma língua em comum. Muitos professores são incentivados pelos governos do estado a realizar cursos de Libras, porém nem todos fazem, além de que a necessidade de um professor vai muito além do que um curso básico pode propiciar. Dessa forma, verifica-se que o problema não está sanado, pois o surdo precisa de uma comunicação completa para que de forma concreta desenvolva seu aprendizado.

Essa comunicação completa vai além da simples colocação de intérprete em sala de aula, mas sim diz respeito às práticas sociais, pois existe a necessidade de envolvimento de todos que influenciam na educação do surdo, pois se isso não ocorre, há apenas uma falsa inclusão escolar e social, o que tem levado a sofrimento social e pessoal.

Assim, a necessidade de serem fundadas as escolas para Surdos em cima do conceito de políticas de identidade, onde um determinado grupo possa manter vivo e alimentar gerações com conhecimento e pertinência, e para isso nada melhor que a escola bilíngue.

No Brasil, como em muitos outros países, a experiência com educação bilíngue ainda se encontra restrita. Um dos motivos para este quadro é, sem dúvida, a resistência de muitos a considerar a Língua de Sinais como uma língua verdadeira ou aceitar a sua adequação ao trabalho com o surdo (LACERDA, 1996, p. 79).

É necessário inserir o indivíduo no lugar de capaz, pois o mesmo tem a capacidade de interagir e aprender no mundo em que o cerca. Para isso, é preciso romper com o modelo já aplicado de educação inclusiva e especial, e por fim aderir o modelo de escola bilíngue, para que assim ocorra a verdadeira aprendizagem da pessoa surda, onde o mesmo encontre sua identidade social, sendo capaz de interagir e desenvolver suas habilidades.

Independentemente de tratar de uma minoria linguística na sociedade majoritária, é interessante lembrar que possuem capacidades equivalentes a de um ouvinte para se desenvolver, além de que são seres humanos iguais a qualquer um, e merece o devido respeito.

Práticas pedagógicas empregadas no ensino de surdos

Ao se tratar da educação de alunos surdos é interessante pensar nas práticas pedagógicas a serem adotadas como metodologia em sala de aula, assim é necessário compreender alguns pontos.

O ato de ensinar diz respeito a troca de conhecimento, onde a comunicação é a chave para que ocorra a socialização, levando em conta que alunos surdos não possuem a mesma condição de comunicação que os alunos ouvintes, mesmo tendo funções cognitivas adequadas ao aprendizado, surge a proposta bilíngue que permite ao aluno o contato com a Língua de Sinais como sua primeira língua e a portuguesa como segunda língua na modalidade escrita.

Para inserir a proposta bilíngue é necessária a presença de profissionais fluentes em Libras, como o instrutor surdo e o Tradutor Intérprete de Língua de Sinais Brasileira – Língua Portuguesa. Ambos possuem papel fundamental para o ensino bilíngue, pois irão intermediar na comunicação, ensinar a Língua de Sinais àqueles que ingressam na escola sem o conhecimento da mesma, além de mediar a comunicação entre os sujeitos envolvidos no processo da aprendizagem.

Sendo assim, a partir da inclusão do estudante surdo nas escolas públicas, constata-se a necessidade de adequação do espaço pedagógico para que esse aluno seja realmente inserido como sujeito capaz de aprender e interagir com os demais. Porém, nota-se diante das pesquisas realizadas, que poucas são as escolas que se adequam ao atendimento especializado em Libras.

Além dos profissionais capacitados em Libras, é necessário que haja uma organização didática para o ensino desses alunos. É preciso trabalhar por meio de imagens visuais que referencie todo tipo de assunto a ser trabalhado no ambiente escolar. Assim, será possível contribuir ainda mais na aprendizagem dos conteúdos curriculares.

A depender da aula a ser aplicada, e do conceito a ser estabelecido, o professor pode também recorrer ao teatro para situa-lo de forma mais clara e objetiva, pois ideias abstratas por muitas vezes são mais difíceis de compreender, assim é importante utilizar a criatividade para utilizar recursos didáticos que possibilitem a compreensão dos conteúdos curriculares.

Quadros e Schmiedt (2006, p. 27) aponta alguns dos aspectos que precisam ser explorados no processo educacional e que são importantes para a prática de Libras com a integração da criança ao contexto:

  • estabelecimento do olhar

  • exploração das configurações de mãos

  • exploração dos movimentos dos sinais (movimentos internos e externos, ou seja, movimentos do próprio sinal e movimentos de relações gramaticais no espaço)

  • utilização de sinais com uma mão, duas mãos com movimentos simétricos, duas mãos com movimentos não simétricos, duas mãos com diferentes configurações de mãos

  • uso de expressões não manuais gramaticalizadas (interrogativas, topicalização, focus e negação)

  • exploração das diferentes funções do apontar

  • utilização de classificadores com configurações de mãos apropriadas (incluem todas as relações descritivas e preposicionais estabelecidas através de classificadores, bem como, as formas de objetos, pessoas e ações e relações entre eles, tais como, ao lado de, em cima de, contra, em baixo de, em, dentro de, fora de, atrás de, em frente de, )

  • exploração das mudanças de perspectivas na produção de sinais

  • exploração do alfabeto manual

  • estabelecimento de relações temporais através de marcação de tempo e de advérbios temporais (futuro, passado, no presente, ontem, semana passada, mês passado, ano passado, antes, hoje, agora, depois, amanhã, na semana que vem, no próximo mês, ) · exploração da orientação da mão

  • especificação do tipo de ação, duração, intensidade e repetição (adjetivação, aspecto e marcação de plural)

  • jogos de perguntas e respostas observando o uso dos itens lexicais e expressões não manuais correspondentes

  • utilização de “feedback” (sinais manuais e não-manuais específicos de confirmação e negação, tais como, o sinal CERTO-CERTO, o sinal NÃO, os movimentos de cabeça afirmando ou negando)

  • exploração de relações gramaticais mais complexas (relações de comparação, tais como, isto e aquilo, isto ou aquilo, este melhor do que este, aquele melhor do que este, este igual àquele, este com aquele; relações de condição, tais como, se isto então aquilo; relações de simultaneidade, por exemplo, enquanto isto acontece, aquilo está acontecendo; relações de subordinação, como por exemplo, o fulano pensa que esta fazendo tal coisa; aquele que tem isso, está fazendo aquilo)

  • estabelecimento de referentes presentes e não presentes no discurso, bem como, o uso de pronominais para retomada de tais referentes deforma consistente

  • exploração da produção artística em sinais usando todos os recursos sintáticos, morfológicos, fonológicos e semânticos próprios da LSB (QUADROS; SCHMIEDT, 2006, 27).

Dentre as práticas pedagógicas que podem ser utilizadas no ensino de alunos com surdez, o professor deve utilizar recursos didáticos pedagógicos que facilitem a aprendizagem, como painéis de gravura, fotos, jogos, cartazes, maquetes, enfim, sempre os relacionando com os conteúdos estudados, como forma de criar interesse no aluno, para que analisem e façam analogias, associações do conhecimento novo com o que já sabem.

Constata-se então, a necessidade de desenvolver práticas pedagógicas que promovam a atenção dos alunos e que permita maior facilidade ao desenvolvimento do raciocínio lógico e cognitivo. Dessa forma, é interessante que o professor tenha uma proposta de trabalho estabelecida, pois o planejamento permite definir quais os objetivos que se deseja alcançar durante a aula, conforme corrobora (BRASIL, 2014b, p. 16):

O professor do ensino regular deverá planejar suas aulas considerando os direitos de aprendizagem dos alunos, as diferenças que fazem parte da subjetividade de cada um, realizando um trabalho articulado com seus colegas que atuam no AEE, ou seja, trata-se de uma proposta de trabalho que envolve a escola, um trabalho em equipe. (BRASIL, 2014b, p. 16).

Assim sendo, ao trabalhar com a inclusão, é preciso que o docente trate todos por meio da igualdade, respeitando as especificidades de cada um, ou seja, para atender o estudante surdo, o professor deve ter consciência da necessidade de adaptar suas aulas, levar em conta que a aula será mais longa, cheia de detalhes, para que o intérprete repasse as informações de forma clara e precisa, e que toda a classe compreenda o assunto abordado. Desta forma, torna-se imprescindível que as escolas e professores realizem adaptações curriculares para que ocorra a inclusão escolar dos alunos, conforme afirmação em Brasil (1998):

As adaptações curriculares constituem, pois, possibilidades educacionais de atuação frente às dificuldades de aprendizagem dos alunos. Pressupõem que se realize adaptação do currículo regular, quando necessário, para torná- lo apropriado às peculiaridades dos alunos com necessidades especiais. Não um novo currículo, mas um currículo dinâmico, alterável, passível de ampliação para que atenda realmente a todos os educandos (BRASIL, 1998, p.34).

Com isso, é preciso estar atento às individualidades de cada um, para que dessa forma haja as adaptações curriculares, e assim possa atender devidamente aos alunos com necessidades especiais, e os mesmos possam desenvolver como os demais colegas de classe.

A    importância    do    ensino    em    Libras    para    a    aprendizagem    e    o desenvolvimento do aluno surdo no contexto escolar

A inclusão escolar é um fato legal, e por isso é interessante fazer valer as leis que visão atender com comprometimento e responsabilidade o público que na maioria das vezes é desfavorecido pela sociedade, por não se encaixar no perfil da maioria. Para que a inclusão realmente aconteça, é preciso modificações no currículo, na prática pedagógica, porque a aprendizagem do surdo é totalmente diferente do ouvinte. Como no exposto a seguir:

[…] as mudanças são fundamentais para inclusão, mas exige esforço de todos possibilitando que a escola possa ser vista como um ambiente de construção de conhecimento, deixando de existir a discriminação de idade e capacidade. Para isso, a educação deverá ter um caráter amplo e complexo, favorecendo a construção ao longo da vida, e todo aluno, independente das dificuldades, poderá beneficiar-se dos programas educacionais, desde que sejam dadas as oportunidades adequadas para o desenvolvimento de suas potencialidades. Isso exige do professor uma mudança de postura além da redefinição de papéis que possa assim favorecer o processo de inclusão (CORDEIRO, 2015, p.1).

Isso porque o elemento principal de aprendizagem do aluno surdo é a Libras, o que não é o caso do ouvinte. Além disso, o mesmo terá que aprender o português no intuito de fazer parte do contexto escolar. Essa junção, diz respeito a educação bilíngue, que tem como princípio promover uma educação de qualidade.

Visto assim, a importância da Libras na aprendizagem e o desenvolvimento do aluno surdo no contexto escolar, pois se trata de sua língua natural. Além disso, é necessário adaptações de acordo com sua necessidade, como no caso também da utilização de recursos visuais.

A inserção da Libras no contexto escolar, visa permitir que os discentes tenham acesso ao conhecimento, por ser esta a língua materna do surdo, sendo sua principal fonte de comunicação e expressão. A junção da mesma com recursos pedagógicos adequados, profissionais capacitados, recursos visuais é que tornará o ambiente estimulador e propicio a aprendizagem.

Vale lembrar que, a Libras tem importância não somente aos professores, como também a todos os profissionais e alunos do colégio, pois a inclusão visa fornecer elementos capazes de promover a comunicação e interação do aluno com quem o mesmo desejar. Dessa forma, é possível estabelecer que não existe inclusão, se as pessoas envolvidas no processo de educação não souberem Libras.

Assim, é possível verificar que a inclusão do aluno surdo nas séries regulares de muitas escolas públicas ocorre de forma parcial, pois falta o preparo de profissionais para trabalhar com o público surdo, a inclusão não deve ser confundida apenas com a presença física do aluno, mas sim de forma conjunta, onde todos aprendem e interagem independentemente de suas dificuldades ou diferenças.

O princípio é que as escolas devem acolher a todas as crianças incluindo crianças com deficiências superdotadas, de rua, que trabalham, de população distante, nômades, pertencentes a minorias linguísticas, etnias ou culturais, de outros grupos desfavorecidos ou marginalizados. Para isso sugere que se desenvolva uma pedagogia centrada nas relações com a criança, capaz de educar com sucesso a todos, atendendo as necessidades de cada um, considerando as diferenças existentes entre elas (PAULON; FREITAS; PINHO, 2005, p 20).

Diante disso, é evidenciado que o papel da escola vai além de facilitar o aprendizado, é importante que a mesma forneça condições para que o aluno desenvolva espontaneamente, tenha autonomia e seja independente no seu dia a dia escolar e social.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para a realização dessa pesquisa, optei pela pesquisa bibliográfica que tem como norte um estudo de abordagem qualitativa, no intuito de relacionar os dados coletados aos aspectos da realidade, com a finalidade de compreender e também de explicar as relações sociais em torno da temática instituída.

Os estudos para realização da pesquisa iniciou-se desde dezembro de 2018, e se afirmou cada dia mais, utilizei como suporte livros, revistas, sites e trabalhos acadêmicos já publicados, que tratam de assuntos relacionados ao tema da pesquisa.

A pesquisa teve como principal fonte de subsídios Quadros (1997, 2000 e 2008), além de outros autores que contribuíram imensamente para fundamentar e dar base teórica ao trabalho. Para a discursão dos dados coletados utilizou-se a análise de conteúdo como técnica de subsídio, pois a mesma possibilita apresentar elementos implícitos com significados essenciais ao contexto do estudo, possibilitando maior compreensão em torno do tema, além de promover a descoberta do pesquisador.

A abordagem qualitativa trabalha com o universo dos significados, motivos, aspirações, atividades, valores e crenças sem a necessidade de serem reduzidas as operacionalizações de variáveis, ou seja, ela ajuda a solucionar questões particulares, com um nível de realidade que não pode ser quantificado.

Entende-se aqui, que o termo metodologia pode ser compreendido como um instrumento guia do pesquisador, sabendo-se que é através da especificidade dos caminhos que possivelmente chegaremos a captar a realidade e os fenômenos investigados.

Para que compreendamos melhor sobre o conceito de metodologia, o autor a seguir esclarece:

Entendemos por metodologia o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade. Ou seja, a metodologia inclui simultaneamente a teoria da abordagem (o método), os instrumentos de operacionalização do conhecimento (as técnicas) e a criatividade do pesquisador (sua experiência, sua capacidade pessoal e sua sensibilidade). (MINAYO; DESLANDES; GOMES, 2008, p. 14).

Por conta de algumas inquietações e também perante o que observei durante o curso de Libras, senti a necessidade de estudar uma temática referente ao ensino, onde situa a importância da capacitação do docente para ministrar aulas a surdos. Assim, tive que levantar a problemática, onde busquei compreendê-la melhor, identificando suas causas.

Os métodos de geração da pesquisa foram utilizados a partir da análise e interpretação, no intuito de promover o entendimento a respeito do tema. Desta forma, a pesquisa foi desenvolvida através de leituras intensivas e críticas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados encontrados a partir do estudo realizado demonstra que a Libras é a base crucial para o desenvolvimento na educação de surdos, trata- se da língua natural dos mesmos, que deve ser inserida o quanto antes para que não haja atrasos no desenvolvimento da criança.

Verificou-se também, que mesmo diante das leis vigentes no país, como a Lei nº 10.436 (BRASIL, 2002), a chamada “Lei de Libras”, que pondera sobre a formação para atuação de professores no ensino de Libras, ainda falta em muitas escolas profissionais para trabalhar com esse público, sendo este um problema que precisa ser sanado o mais rápido possível, no intuito de promover oportunidades e atender as demandas da sociedade.

As pesquisas analisadas demonstram que a formação inicial oferecida aos professores não são suficientes para atender o público diversificado das escolas públicas brasileiras, fato este agravante por professores e alunos não compartilharem de uma mesma língua, o que gera muitos conflitos e dificuldades no ensino.

Nota-se, que mesmo diante das transformações políticas ocorridas ao longo dos anos, a formação inicial poucas modificações sofreu, pois mesmo que a disciplina Libras esteja presente nos cursos por força da Lei, ainda não é suficiente, pois é desenvolvida de forma isolada das demais e descontextualizada da realidade escolar.

Parte das pesquisas sobre a formação dos professores defende que a mesma deveria ser específica, por se tratar de uma educação exclusiva para surdos, o que contrapôs a outras que sugerem uma formação não especializada, mas sim voltadas a conhecimentos gerais de educação especial, onde as especificidades linguísticas são de cargo do professor especialista.

Percebe-se então, que há muito em que pesquisar, fazer e estudar sobre a educação de surdos, ainda mais no que se trata do seu agente principal dos processos escolares e dos aspectos formativos que é a formação do professor.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após refletir por meio de teorias e conceitos sobre a importância da Libras na formação pedagógica de professores na educação de alunos surdos, percebeu-se que existem leis que regulamentam a inclusão de pessoas surdas no âmbito educacional. Porém, conforme a pesquisa bibliográfica realizada verificou-se que mesmo diante das grandes conquistas, ainda se promulga dificuldades enfrentadas por muitas escolas, que não possuem profissionais capacitados para atender a esse público.

Entre as dificuldades encontradas para a educação de indivíduos surdos, está à questão da formação profissional, a falta de organização curricular que adapte ao atendimento desses alunos. Além da inclusão, é preciso inserir o sujeito surdo como sujeito dotado de linguagem, pois o mesmo possui a Libras como língua natural, capaz de desenvolver suas capacidades intelectuais.

Visto dessa forma, que a inclusão no espaço escolar tem muito a ser repensado, onde Projeto Político Pedagógico, adaptação curricular que atendam às necessidades dos alunos, formação continuada dos profissionais, união entre escola e família no planejamento das atividades escolares possam intervir no processo de inclusão do surdo no espaço escolar, promovendo conhecimento eficaz, além de possibilitar uma significativa relação social.

Portanto, não se pode negar aos sujeitos surdos o direito de participarem de nossa sociedade, para isso é necessário respeitar sua língua, sua diferença, promovendo a integração com sua cultura e a efetivação da Língua de Sinais em todos os meios através das políticas públicas que giram em torno do assunto.

REFERÊNCIAS

AMORIN, M.; COSTA, S.; WALKER, M. A inclusão do aluno surdo na rede regular de ensino. 2015. Disponível em: . Acesso em: 1 jan. 2019.

ARANTES, A. C. F. F. de S.; PIRES, E. M. A importância da formação bilíngue na educação do surdo. 2012. Disponível em: . Acesso: 01 jan. 2019.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). In: BRASIL. Constituição Federal, Civil, Processo Civil, Penal, Processo Penal: legislação complementar e súmulas do STF e do STJ. 8. ed. São Paulo: Manole, 2010.

QUADROS, R. M. de. Educação de Surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artmed, 1997.

QUADROS, R. M. de. Alfabetização e o ensino da língua de sinais. 2000. Disponível em: < http://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=23&idart=47>. Acesso em: 1 jan. 2019.

QUADROS, R. M. de. A educação de surdos na perspectiva da educação inclusiva no Brasil. 2008. Disponível em: . Acesso em: 1 jan. 2019.

QUADROS, R. M. de; SCHMIEDT, M. Ideias para ensinar português para alunos surdos. Brasília: MEC, SEESP, 2006.

SANTOS, N. C.; SILVA, I. C. da. A importância da inclusão do deficiente auditivo na cultura da organização.  Disponível em: < https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:MC8YdpXDidQJ:http s://revistas.br azcubas.br/index.php/dialogos/article/download/80/103/+&cd=2&hl=ptBR&ct=cl nk&gl=br>. Acesso em: 1 jan. 2019.