Artigo: A criança, a educação, e o lúdico

* Por Juliana Camilo Ferreira

A concepção da criança é uma noção historicamente construída e vem mudando ao longo dos tempos, não se apresentando de forma homogênea nem mesmo no interior de uma mesma sociedade e época. Assim é possível que, por exemplo, em uma mesma cidade, existem diferentes maneiras de se considerar as crianças, dependendo da classe social a qual pertencem do grupo étnico do qual fazem parte.

Boa parte das crianças brasileiras enfrenta um cotidiano bastante adverso que as conduz desde muito cedo a precárias condições de vida, ao trabalho infantil, ao abuso e exploração por parte de adultos. Outras crianças são protegidas de todas as maneiras, recebendo de suas famílias e da sociedade em geral cuidados necessários ao seu desenvolvimento.

Compreender, conhecer e reconhecer o jeito particular das crianças serem e estarem no mundo deve ser o grande desafio da educação infantil. Embora os conhecimentos derivados da psicologia, antropologia, e sociologia possam ser de grande valia para desvelar o universo infantil, apontando algumas características comuns de serem, elas permanecem únicas em suas individualidades e diferenças.

A capacidade de brincar possibilita as crianças um espaço para resolução dos problemas que as rodeiam. A literatura especializada no crescimento e no desenvolvimento infantil considera que o ato de brincar é mais que a simples satisfação de desejos. O brincar é o fazer em si, um fazer que requer tempo e espaço próprios; um fazer que se constitui de experiências  culturais, que são universais, e próprio da saúde porque facilita o crescimento, conduz aos relacionamentos grupais, podendo ser uma forma de comunicação consigo mesmo e com os outros.

Cabe ressaltar, no entanto que no mundo capitalista em que vivemos o lúdico esta sendo extraído do universo infantil. As crianças estão brincando cada vez menos por inúmeras razoes: uma delas é o amadurecimento precoce; outra é a redução violenta do espaço físico e do tempo de brincar, ou seja, o excesso de atividades atribuídas, tais como escola, natação, inglês,computação,ginastica,dança,pintura,etc.tudo isso toma o tempo das crianças e, na hora de brincar, quando sobra tempo, muitas vezes ficam horas em frente a televisão divertindo se com jogos violentos e rodeadas de brinquedos eletrônicos, onde as interações sociais e a liberdade de agir ficam determinadas pelo próprio brinquedo. Eles fazem quase tudo pelas crianças, se movimentam e ate falam, sobrando pouco espaço para o faz de conta.

Entretanto, o mais grave de tudo, é que os pais estão esquecendo a importância do brincar. Muitos acham que é um bom presente é um tênis de grife ou uma roupa porque é (mais útil). Brinquedo virou supérfluo. No desespero por fazer economia, os pais estão cortando o brinquedo do orçamento da familiar. Grande engano, com consequências muito serias se o erro não for reparado a tempo, pois roupas e acessórios em geral não vão desenvolver o raciocínio nem a afetividade. Pelo contrario, vão transformar a criança em um mini adulto que, desde já, precisa estar sempre ligado.

É preciso respeitar o tempo de a criança ser criança, sua maneira absolutamente original de ser e estar no mundo, de vive- ló, de descobri-lo, de conhecê-lo, tudo simultaneamente. É preciso quebrar alguns paradigmas que foram sendo criados. Brinquedo não é só um presente, um agrado que se faz a criança: é investimento em crianças sadias do ponto de vista psicossocial. Ele é a estrada que a criança percorre para chegar ao coração das coisas, para desvelar os segredos que lhe esconde um olhar surpreso ou acolhedor, para desfazer temores, explorando o desconhecido.